Folha de S. Paulo
Fracasso de políticas de segurança e
corrupção levaram a uma situação de equilíbrio entre facções fortalecidas e um
Estado fraco
No mês passado, 31 pessoas foram presas numa
operação contra o crime organizado no Equador.
Entre os alvos estavam juízes, promotores, policiais e um general que havia
comandado o sistema penitenciário do país. Todos eram acusados de proteger um
chefão do tráfico. A ação foi batizada de Metástase.
A crise da segurança no Equador exibe os sintomas mais agudos do fortalecimento do narcopoder na América Latina. Facções do tráfico se espalham por órgãos da estrutura do Estado, assumem o controle de territórios e postos estratégicos e, com certo desembaraço, usam o terror para desafiar autoridades.
Anos de fracasso de políticas de segurança e
uma dose de corrupção permitiram que as quadrilhas equatorianas acumulassem
poder econômico, arsenais, recursos humanos e capacidade de organização para
coordenar os ataques registrados no país nos últimos dias.
Desde 2019, presidentes do Equador assinaram
40 decretos de estado de exceção para combater o crime organizado. A abordagem
"mano dura" na segurança pode ter funcionado em
campanhas eleitorais, mas foi ineficaz contra o que analistas classificam como
uma situação de equilíbrio: facções cada vez mais poderosas e um Estado fraco.
Decisões pontuais como estados de exceção,
militarização de ações de segurança e aumento de penas foram capazes de sufocar
rebeliões em presídios ou interromper ondas de violência,
mas só consolidaram o equilíbrio. A conclusão é dos pesquisadores Jorge
Mantilla e Maria Fe Vallejo e da secretária de Segurança de Quito,
Carolina Andrade, num artigo no Journal of Strategic Security.
Além da falta de uma política abrangente e de
longo prazo para combater o crime e recuperar territórios dominados, as facções
do tráfico se sentem ainda mais dispostas a disputar o poder e enfrentar as
forças de segurança quando estão protegidas pela estrutura paralela que
financiam dentro do Estado. Não há império da lei se os criminosos fazem parte
da corte.
Verdade.
ResponderExcluirExcelente, análise muito interessante.
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