Folha de S. Paulo
Assim como mostrou eficiência a partir da
influência política, grupo exibe desenvoltura nas ameaças
A fúria da bancada evangélica contra a
decisão da Receita que suspendeu um
benefício tributário ajuda a entender como as igrejas
escolheram fazer política em Brasília. Tudo indica que, nos últimos tempos,
essa turma ficou mal-acostumada com o acesso privilegiado ao poder.
O peso eleitoral dos evangélicos passou a ser negociado sem pudor. Às vésperas da campanha de 2022, depois de um lobby intenso, o governo Bolsonaro atropelou um entendimento técnico de anos e determinou que a Receita não cobrasse contribuição previdenciária sobre um tipo de pagamento feito aos pastores.
Na prática, Bolsonaro autorizou um jeitinho.
Por lei, não são cobrados tributos sobre a chamada prebenda —em teoria, um
valor módico para a sobrevivência de missionários. Mas a Receita sempre soube
que as igrejas exploravam a brecha para pagar salários e até distribuir lucros
para seus líderes.
Assim como mostrou eficiência em transações
baseadas na influência política, a bancada evangélica também exibe desenvoltura
para buscar seus interesses a partir de ameaças. Quando a Receita interrompeu a
festa das prebendas, nesta semana, parlamentares acusaram o governo Lula de
perseguição às igrejas e prometeram retaliação.
Coube ao deputado Sóstenes Cavalcante
(PL) apresentar os
termos da briga de forma crua. Ele disse que o "governo da
esquerda" usaria a cobrança de tributos como chantagem e afirmou que, em
resposta, denunciaria o governo para "os evangélicos do Brasil
todinho". É possível que o parlamentar tenha um conceito particular da
palavra "chantagem".
Um detalhe irônico da história aparece num
documento técnico da Receita a favor da cobrança de tributos sobre a prebenda.
O texto cita Ives Gandra Martins Filho, ministro do TST queridinho dos
ultraconservadores: "Apenas no caso de desvirtuamento da própria
instituição religiosa, buscando lucrar com a palavra de Deus, é que se poderia
enquadrar a igreja evangélica como empresa e o pastor como empregado".
Uai!
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