Valor Econômico
Efemérides nos lembram de democracia,
estabilidade econômica e combate à corrupção
Esse peculiar costume ancestral que nós
humanos temos de celebrar mais uma volta completa do nosso planeta em torno do
sol tem o poder de nos deixar pensativos. Refletimos sobre os erros e acertos
do ano que se finda e, sobretudo, expomos nossos desejos e traçamos metas para
o novo ciclo que se inicia.
Vem de tempos imemoriais o hábito de anotar a posição dos principais astros no céu a cada noite. A regularidade das observações permitiu a diferentes povos criar seus calendários e, muito depois, chegar à conclusão de que a Terra gira em torno do sol.
As tábuas utilizadas para esses registros
astronômicos eram chamadas de efemérides – “de cada dia”, em grego. A
origem etimológica é a mesma de efêmero, “aquilo que tem a duração de um dia”.
Da tradição de utilizar um diário para anotar
os acontecimentos celestiais nasceu o interesse em marcar naqueles mesmos
calendários também os fatos importantes da sociedade, como o nascimento dos
reis, as vitórias em guerras ou a celebração de tratados de paz.
E assim, da mesma forma que as posições
regulares das estrelas e constelações registradas nas tábuas astronômicas
ajudavam caravanas e esquadras de navios a atravessar desertos e oceanos
desconhecidos, a celebração de feitos históricos do passado nos faz refletir e,
quem sabe, podem nos orientar a avançar em direção a um futuro melhor.
O ano de 2024 traz consigo, no Brasil, três
efemérides que serão motivo de importantes debates, pois marcam eventos
históricos de interpretação nem um pouco pacífica entre nós. Estarão em pauta
os 60 anos do golpe militar de 1964, os 30 anos do Plano Real e os 10 anos da
deflagração da Operação Lava Jato.
Embora não haja uma correspondência exata
entre os críticos e os apoiadores desses episódios de nossa história, visões
diferentes sobre o significado de cada um dividem a sociedade brasileira com
narrativas específicas.
Nos últimos anos, impulsionado pelo
bolsonarismo, cresceu o percentual da população favorável a soluções
autoritárias para os problemas brasileiros. E assim, dos pleitos por
intervenção militar à destruição dos símbolos dos Três Poderes que compõem
nossa República foi um pulo – evento, aliás, que na próxima segunda-feira
completa seu primeiro aniversário.
Com relação à Operação Lava Jato, nos últimos
dez anos passou-se do extremo dos louvores à ação voluntarista de
representantes do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal,
aclamados como heróis por parcela relevante da sociedade, ao seu completo
descrédito após as revelações da Vaza Jato e as opções políticas dos principais
protagonistas das operações.
Já quando consideramos o trigésimo
aniversário do Plano Real, ainda que haja um consenso relativamente bem
disseminado entre as diferentes correntes políticas de que o controle da
inflação é um valor a ser defendido, pois traz votos, ainda há muita divergência
sobre quais são os instrumentos fiscais, monetários e cambiais para se alcançar
esse objetivo.
Ao contrário das efemérides astronômicas,
cuja regularidade da posição dos corpos celestiais levaram os antigos a extrair
conclusões sobre os melhores caminhos a seguir, as efemérides históricas podem
mais confundir do que iluminar.
Afinal, em vez de aproveitarmos a
oportunidade para pensar em fórmulas de se fortalecer a democracia, a
estabilidade econômica e o combate à corrupção no Brasil, muito
provavelmente nossa energia cívica será dispersada em embates sobre as
diferentes interpretações que bolsonaristas e lulistas, desenvolvimentistas e
fiscalistas, lavajatistas e garantistas terão sobre os principais eventos
históricos a serem relembrados em 2024.
Desejo a todos os leitores e leitoras um ano
novo próspero, íntegro e pacífico.
Simplesmente BRILHANTE! Parabéns ao colunista e ao blog que divulga seu trabalho, hoje particularmente muito inspirado e verdadeiro!
ResponderExcluirVerdade,Daniel.
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