sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Eliane Cantanhêde - ‘Ano da colheita’

O Estado de S. Paulo

Em 2024, Lula colhe voto para seus candidatos em outubro e planta apoio para militares

Se 2023 foi o ano do “Brasil voltou”, 2024 está programado para ser o “ano da colheita” (ou dos palanques, inaugurações, PAC), como disse o presidente Lula no seu primeiro giro pelo Nordeste do ano, quando, além de tentar colher apoio para seu governo e votos para seus candidatos em outubro, tratou de plantar boas notícias para as Forças Armadas.

Quem planta colhe, mas plantar dá trabalho, custa caro e depende de São Pedro, do El Niño e dos fatos. Logo, Lula precisa plantar, aguar e cuidar bem de suas relações com Exército, Marinha e Aeronáutica, onde o grosso do eleitorado lhe virou as costas e votou em Jair Bolsonaro em 2022, apesar de todos os investimentos bilionários que ele fez em equipamentos e tecnologia para a área militar nos seus dois primeiros mandatos.

Na viagem desta semana, Lula anunciou investimentos em três projetos da FAB: o parque tecnológico aeroespacial e o centro de tecnologia e aprendizagem, ambos na Bahia, e o primeiro câmpus avançado do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), justamente no Ceará, já que os alunos cearenses são campeões de notas nos vestibulares da instituição.

O presidente também dá uma passadinha por Pernambuco, com o comandante do Exército, general Tomás Paiva, para a posse do general Maurício Ribeiro no Comando Militar do Nordeste e para anunciar a construção da Escola de Sargentos em Paudalho. Bem... o projeto é em área de preservação ambiental e está dando o que falar, mas essa é uma outra história.

Enquanto planta e, vá lá, colhe na área militar, Lula mexe num outro campo minado ao suspender norma criada por Bolsonaro que desobrigava pastores de recolher taxas previdenciárias em remunerações pessoais. A bancada evangélica reuniu tropas no Congresso, engatilhou as armas e trata como “perseguição” o que, no mundo laico, é questão de justiça tributária.

Se Lula deu vários tiros no pé nas viagens internacionais, dá sinais de que não será diferente nos giros domésticos. E já começou. Como alinhou-se à China e cutucou EUA em 2023, ele repete a dose agora, elogiando a educação chinesa e acusando novamente os EUA de “conluio” com procuradores da Lava Jato contra empresas brasileiras. E ataca a “elite brasileira”, que “nunca teve a intenção de educar o nosso povo”. É a pura verdade, mas… e nos 14 anos em que o PT esteve no poder e virou “elite”?

Lula precisa ter cuidado com a língua e com a agenda. Fazer festa para retomar a refinaria Abreu e Lima (PE)? Lançada nos seus primeiros mandatos, com a PDVSA da Venezuela de Hugo Chávez, deu um trabalhão: superfaturamento, calote, Lava Jato... E, afinal, a prioridade não é combustível verde?

 

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