O Estado de S. Paulo
Eleição nos EUA e ampliação dos Brics em torno da China definem foco de 2024
A eleição americana em 2024 está no centro
das atenções mundiais e tanto da política externa quanto da política interna do
Brasil. Nenhum dos candidatos, Joe Biden, democrata, e Donald Trump,
republicano, encanta ou atrai o governo, iniciativa privada ou analistas, mas
Trump é considerado o mal maior, com poder destrutivo das instituições dos EUA
e risco para a estabilidade mundial. A invasão do Capitólio, em 6/1/2021,
deixou cicatrizes.
Como a Argentina, a maior potência mundial está refém de uma polarização nefasta entre Biden, tão antiquado e incapaz de enfrentar os grandes problemas quanto o peronista derrotado Sergio Massa, e Trump, tão absurdo, autocentrado e perigoso quanto Javier Milei. Há um estrangulamento do centro democrático e da racionalidade, quando o mundo, atolado em duas guerras, da Ucrânia e de Israel, precisa de negociação e bom senso.
A decisão de Milei de desdenhar da adesão da
Argentina ao Brics – ampliado, aliás, a partir desta segunda-feira, 1.º de
janeiro – é consequência da balança internacional. De um lado, os EUA perdem
liderança externa e aprofundam suas incertezas políticas e angústias internas.
De outro, a China faz um esforço estratégico
para aproximar o seu alcance político ao seu já bem definido poder econômico.
No meio, está o Brics, já criado como
resistência a um “mundo unipolar”, contra a hegemonia americana, e agora, com
cinco novos membros, vai se assumindo como massa de manobra da China contra os
EUA e a favor da sua própria influência no
mundo, com a bandeira da “desdolarização”. Ao se recusar a integrar o bloco,
Milei toma partido de EUA e Israel e joga luzes na agudização da polaridade em
2024 e nos próximos anos, ou décadas.
Se Trump vencer, como indicam as pesquisas –
apesar de dois Estados, Colorado e Maine, decretarem sua inelegibilidade –, a
disputa entre EUA e China vai escalar, com expectativa de avanço da extrema
direita no mundo, impulsionado por Israel, Rússia, Turquia, Hungria, Polônia e,
agora, Argentina... Isso afeta a economia, o comércio, os princípios, os
direitos humanos e os costumes.
O Brasil fica numa posição delicada. É parte
importante do Brics, com o presidente Lula fazendo acenos a China e Rússia e
estocando a Europa e os EUA de Biden (imaginem com Trump...). Isso projeta Lula
e o PT de um lado, com China e Brics, e o bolsonarismo de outro, com Trump e
Milei, com mais polarização, tensão e contaminação política na economia. O mar,
como os rios da Amazônia, não está para peixe. E o mundo, entre secas e
enchentes, não está aí para brincadeira.
Verdade.
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