O Globo
Judicialização se tornou parte do negócio.
Nega-se o atendimento. Se o cliente vai ao tribunal, atende-se. Se não vai,
lucra-se
As repórteres Fabiana Cambricoli e Ana
Lourenço revelaram que o plano de saúde Hapvida Notre Dame, o maior do mercado,
descumpre liminares concedidas pela Justiça protegendo seus clientes. Só no
Foro Central Cível de São Paulo, ela ignorou mais de cem liminares nos últimos
oito meses de 2023. A empresa informa que apenas exerce o seu direito de
defesa. Vá lá.
Descumprindo liminares, a Hapvida mostra que
a astúcia das operadoras de planos de saúde está mudando de patamar. Até agora,
em algumas empresas, prevalecia um modelo de gestão. O cliente pagava o plano,
precisava do serviço e ele era negado. Quem podia, além de ter um contrato com
a operadora, tinha também um advogado. Recorria a ele e, se conseguisse a
liminar, resolvia a questão. Se não tivesse advogado, ralava.
Segundo o Conselho Nacional de Justiça, nos três primeiros meses de 2023 foram abertas 25.700 ações contra planos de saúde. Assim, a melhor maneira de cuidar da saúde recomendava a compra de dois serviços: o da operadora e o do advogado.
As operadoras reclamam da judicialização das
controvérsias, mas pode-se suspeitar que ela se tornou parte do negócio.
Nega-se o atendimento. Se o cliente vai ao tribunal, atende-se. Se não vai,
lucra-se.
A recusa ao cumprimento das liminares indica
uma perigosa mudança de patamar, jogando os clientes que padecem de insegurança
médica no campo da insegurança jurídica.
O mercado das operadoras de saúde se mostra
estruturalmente imperfeito. Fechou 2023 com um prejuízo de R$ 10,7 bilhões. Em
março passado a Hapvida perdeu metade de seu valor de mercado. Um mês depois,
soube-se que 284 planos de saúde estavam no vermelho.
O grupo americano UnitedHealth veio para o
Brasil em 2012 com grandes planos. Errou nas contas, assustou-se com o que viu
e foi-se embora, vendendo a Amil.
Faz tempo, os bancos brasileiros, cevados
pela ciranda da inflação sofreram o choque do Plano Real. Alguns quebraram,
outros consertaram-se. As operadoras de planos de saúde estão chegando a uma
situação parecida. Convivendo num mercado em que não há vigilância sobre os
custos hospitalares, resolvem-se muitas questões alterando regras no escurinho
de Brasília, sempre à custa da clientela.
Não é boa ideia.
O doutores têm dúvidas sobre as vacinas
Num país que já teve presidente da República
e ministro da Saúde duvidando da eficácia da vacina durante uma pandemia que
matou 700 mil pessoas, achava-se que o pior já havia passado. Nada disso.
O Conselho Federal de Medicina resolveu fazer
o que chamou de “enquete” para saber a opinião de seus filiados a respeito da
inclusão da vacina contra a Covid no programa de imunização das crianças contra
o sarampo e a pólio.
Essa girafa repelida pelo meio científico,
jogou luz sobre o Conselho e sobre a figura de seu presidente, o doutor Mauro
Luiz de Britto Ribeiro.
O Conselho funciona em Brasília e
celebrizou-se durante a pandemia, amparando a cloroquina. A decisão foi tomada
pela unanimidade dos conselheiros. Como nas primeiras semanas da crise muita
gente boa entrou nessa, tudo bem. Doutor Mauro ficou mal no filme quando o caso
foi tratado na CPI, mas unanimidade é unanimidade.
No mundo dos números, em 2021 o CFM
encrencou-se com o Tribunal de Contas da União. Mesmo sendo deficitário, o
Conselho torrou R$ 1 milhão em dois anos com despesas do doutor Mauro. No
pacote, uma estadia em Dubai.
Em 2016, o doutor pediu demissão de seu
emprego na Santa Casa de Campo Grande (MS), onde julgava ter prestado
“relevantes serviços”. Não era bem assim. Entre 2013 e 2015, ele faltou ao
serviço 873 vezes, e o Ministério Público pedia a sua demissão por abandono de
emprego, mas prevaleceu a exoneração a pedido.
Em vez de se meter com as vacinas
patrocinando uma “enquete” marota, o CFM, sustentado por contribuições
compulsórias de profissionais que ralam, poderia fazer outra pesquisa, com uma
única pergunta:
O que o doutor acha do nosso querido Conselho
Federal de Medicina?
Madame Natasha
Cansada de zelar pelo idioma, Natasha exultou
com uma boa notícia. O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF e do
Conselho Nacional de Justiça, anunciou um Pacto Nacional do Judiciário pela
Linguagem Simples.
O Pacto de Barroso pede pouco, apenas que os
magistrados expliquem “sempre que possível, o impacto da decisão ou julgamento
na vida do cidadão”. Pede também que sejam dispensadas “formalidades
excessivas”.
Seria demais pedir que os ministros do
Supremo parassem de se tratar por “excelência”. Essa formalidade, pra lá de
excessiva, contamina toda a estrutura do Judiciário. Em novembro passado uma
juíza do Trabalho de Santa Catarina, resolveu intimidar uma testemunha,
enquadrando-a:
“Eu chamei a sua atenção. O senhor tem que
responder assim: o que a senhora deseja, excelência?”
“Eu sou obrigado a isso?”, perguntou a
testemunha.
“O senhor não é obrigado, mas, se não fizer
isso, seu depoimento termina por aqui e será totalmente desconsiderado.”
Exposta, a doutora pediu licença médica.
Natasha aproveita a oportunidade para
conceder uma de suas bolsas de estudo aos 360 funcionários da Secretaria do
Tesouro que estão reclamando da decisão que pretende obrigá-los a comparecer ao
local de trabalho uma vez por semana.
Eles assinaram uma carta onde dizem que “a
economicidade do atual modelo foi repetidamente atestada e vem guiando a
modernização do órgão”.
Natasha faz de conta que não sabe de um
detalhe. Muitos signatários não querem ir ao local de trabalho nem uma vez por
semana porque já se mudaram de Brasília.
Ela acredita que desde a expulsão de Adão do
Paraíso, nunca se defendeu a ausência ao local de trabalho com tanta
criatividade. Se eles fazem isso com o idioma, o Tesouro que se cuide.
Aviso amigo
Quem circula pelos foros internacionais de
meio ambiente anda assustado com a cama de gato que se arma contra o Brasil
para a próxima reunião da COP30, marcada para novembro de 2025, em Belém.
Enquanto o governo sonha com um encontro para
festejar os seus compromissos ambientais, quem joga com as pretas arma um
cenário de queixas contra o agronegócio brasileiro.
Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota e tem horror a trabalho.
Ele se assustou com a discussão em torno do futuro de Guido Mantega. Pelo que o
cretino ouviu, os amigos petistas do ex-ministro queriam colocá-lo como CEO da
Vale, mas conformam-se caso ele ganhe um assento no conselho da empresa.
Eremildo acha que há algo de fogo amigo na
primeira proposta. É verdade que o CEO da Vale pode faturar até R$ 50 milhões
por ano, mas tem que ir trabalhar todo dia.
No conselho, fatura-se cerca de R$ 1,2 milhão por mês e pode-se ficar o tempo que quiser em casa.
Sei.
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