Folha de S. Paulo
Livro mostra como surgiram países do atual
Oriente Médio e como isso contribuiu para a instabilidade regional
Para entender melhor o que acontece no Oriente Médio, li "A Peace to End All Peace" (uma
paz para acabar com qualquer paz), de David Fromkin. Embora não exatamente nova, é uma obra de fôlego que
mostra como surgiram os países que hoje constituem a região e como sua gênese
contribuiu para a instabilidade atual.
Fromkin começa sua investigação nos estertores do Império Otomano, passa a lupa sobre a 1ª Guerra Mundial e para em 1922, que é quando o mapa do
Oriente Médio assume feições semelhantes às atuais. É um prato cheio para
apreciadores do beletrismo histórico. "Grand Jeu", acordo
Sykes-Picot, declaração Balfour e outros eventos, sobre os quais lemos hoje nos
artigos mais eruditos sobre o imbróglio médio-oriental, são cuidadosamente
discutidos.
Embora não seja o objetivo central da obra,
ela também lança luzes sobre a psicologia de figuras importantes como Lloyd
George, Winston Churchill, Woodrow Wilson. Até as aventuras de Lawrence da Arábia têm o
seu lugar.
O imperialismo tem muito a ver com a confusão atual. As potências vencedoras da
1ª Guerra dividiram os despojos do Império Otomano de acordo com seus
interesses e as cambiáveis correlações de força, sem atentar para elementos
básicos da realidade local.
"A Peace..." mostra que os problemas não se limitaram às desavenças
entre potências. Também era frequente que diferentes departamentos de um mesmo
governo se sabotassem. Os britânicos, por exemplo, davam mesadas generosas ao
rei Husssein e a Ibn Saud, que as gastavam combatendo um ao outro. A promessa
dos escalões centrais de Londres de apoiar a constituição de um "lar
nacional" para os judeus era diariamente minada pelos militares britânicos
in loco.
Fromkin conclui lembrando que a Europa levou 1.500 anos para recuperar-se da
queda de Roma. Então, é preciso dar mais tempo para que as coisas se assentem
no Oriente Médio. Quem sabe daqui a 1.400 anos...
Cruzes!
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