Folha de S. Paulo
Coalizões do PT com "golpistas" só
comprovam que o que ocorreu em 2016 foi um processo legítimo de impeachment
Golpe é coisa séria. Uma ruptura
institucional repentina com a derrubada de um governo legítimo e a tomada do
poder por grupos que não haviam sido designados legalmente para o comando do
Estado.
Mas, para o PT, tal fenômeno parece ser banal. O partido ainda
trata o impeachment de Dilma Rousseff como golpe, mas mantém alianças com quem
teria contribuído para a tal quebra do regime democrático.
Aqui surge o golpe branco, uma conspiração que usa táticas de
desestabilização do governo para derrubá-lo sem uso de violência. Artigo de 2020 de Marsteintredet e Malamud, que mapeou a frequência de golpes e o uso do termo
na academia desde 1804, concluiu que quando golpes tornam-se mais raros, em
1990, os termos adjetivados, como golpe branco, passam a ser mais usados.
Os autores alertam para os riscos desse alargamento conceitual. Tratar mudanças
legais de governo como golpes pode ser usado por forças à direita e à esquerda
para invalidar transformações políticas legítimas.
No caso de Dilma, nem mesmo a tese de golpe
branco faz sentido, já que seu próprio governo foi o responsável por
desestabilizá-lo, com uma política econômica intervencionista que causou grave
recessão e desemprego. Em agosto de 2015, sua taxa de reprovação era de 71%.
Crise econômica gera crise política que dá brecha ao
impeachment, cujo processo seguiu os ritos legais, com amplo direito à defesa.
Foi supervisionado pelo então presidente do STF, Ricardo Lewandowski, que agora acaba de ser indicado por Lula para
o Ministério da Justiça.
A narrativa de golpe, seja lá de qual cor, é, portanto, um escárnio que apenas
mentes distorcidas por ideologia conseguem acatar.
Sei.
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