Valor Econômico
Equação montada por Lula enfrentará teste.
Estendeu ao grupo que comanda o enfrentamento ao bolsonarismo o poder sobre a
segurança pública. E nomeou Dino para equilibrar o poder deste mesmo grupo no
STF
O titular será um ex-desembargador do
Tribunal de Justiça de São Paulo (Ricardo Lewandowski) e o secretário de
segurança pública, um procurador-geral de Justiça (Mario Sarrubbo), a ser
empossado graças ao apoio de um ex-SSP-SP que hoje é ministro do Supremo
Tribunal Federal (Alexandre de Moraes). Não há dúvida de que o Ministério da
Justiça terá domínio paulista.
A mudança não se limita ao sotaque
bandeirante. Se o modo como se imbricam justiça e polícia em São Paulo for
exportado para o Planalto, aguardem-se mudanças a reverberar para a política.
A mosca azul que pousou no STF com os inquéritos que caçam o bolsonarismo, ameaça aportar sobre a política de segurança pública. Se a Corte asfixia o bolsonarismo de um lado, o medo face à escalada do crime organizado o alimenta do outro.
Não parece haver dúvida de que, ao escolher
um secretário do porte de Sarrubbo, Lewandowski pretenda, de fato, lhe delegar
poderes. Nem assumiu e já é visto no MJ como um subministro da segurança
pública. Esta perspectiva não passa ao largo de sua proximidade com Moraes
Sem nunca ter se identificado com a esquerda,
Sarrubbo foi muito ativo contra as afrontas civilizatórias do bolsonarismo, do
meio ambiente às eleições. Como a PGR se anulou, coube aos MP estaduais, com
grande protagonismo do paulista, atuar, por exemplo, para impedir a obstrução
de estradas no 2º turno, em completo alinhamento com a presidência de Moraes no
TSE.
Este alinhamento remonta à imbricada relação
entre o MP e a segurança pública. Sete egressos do MP-SP se sucederam na
SSP-SP, entre os quais, Moraes. Foi sob este imbricamento que se moldou o grupo
de combate ao crime organizado (Gaeco).
Como antecipou “O Estado de S.Paulo”, a
expectativa é de nacionalização deste modelo, o que levou o atual ministro da
Justiça, Flávio Dino, a por a boca no trombone. A gestão de Lewandowski, ficou
claro, não será de continuidade.
Dino se agarra à implementação do Sistema
Único de Segurança Pública, proposto e aprovado no Congresso, sob o governo
Michel Temer, pelo sucessor de Moraes no MJ, Raul Jungmann. E diz que o Susp
não é mandatório porque ainda não tem instâncias tripartites que executem esta
política unificada na federação como, por exemplo, no SUS.
A percepção, na atual gestão do MJ, é de que
a equipe que a sucederá tem uma visão enviezada pela toga, de que decisão se
cumpre, e não considera as barreiras políticas da federação.
O que não dá para negar é que, ao contrário
do que acontece na saúde, a implementação de uma política nacional de segurança
pública esbarra na falta de comando dos governadores sobre suas polícias.
Não dá para saber como este vácuo seria
preenchido por um Gaeco nacional, ainda sem forma, cheiro e cor. Mas quando
policiais e promotores se insurgem contra este modelo pela afronta à autonomia
é de comando que se trata.
A autonomia das polícias está conjugada à
concentração de recursos. Levantamento do Justa mostrou que 66% dos gastos com
segurança pública em toda a federação se destinam às PMs. Esta concentração não
colaborou para tornar o país mais seguro.
Se é o imbricamento entre justiça e polícia
paulistas que vai dar as cartas, é preciso reconhecer que São Paulo tornou-se,
ao longo do mandarinato tucano, um dos Estados com menores taxas de homicídio
do país.
Esta redução, porém, se deu em coabitação com
um crime organizado que expandiu atuação para o resto do país e para além das
fronteiras. E, nesta expansão, colaborou para inflacionar a criminalidade no
território nacional.
O MP tem por atribuição o controle externo da
atividade policial, mas, em São Paulo, um grupo especial com este fim, a
exemplo do Gaeco, só foi criado em 2022 - na gestão Sarrubbo.
Das 28 mortes decorrentes da Operação Escudo,
em julho de 2023, no litoral paulista, a mais letal de São Paulo desde o
massacre do Carandiru, apenas uma, até aqui, foi denunciada pelo MP-SP como
decorrente da atuação de policiais. O histórico do órgão é de arquivamento de
90% dos inquéritos.
O MP-SP tem recomendado à PM o uso das
câmaras policiais, mas foi a defensoria pública do Estado que arrancou uma
liminar para impor a obrigatoriedade que acabaria sendo derrubada pelo
presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo. Recurso da defensoria ao STF
foi rejeitado pelo presidente da Corte, Luís Roberto Barroso.
Os planos de Sarrubbo só serão conhecidos
quando a nova equipe tomar posse na próxima semana. O clamor popular pelo
enfrentamento do tema preocupa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
respalda o poder com do futuro secretário. Dependerá de resultados para
mantê-lo.
A toga salvou a democracia, mas a
concentração de poderes do Supremo mantém Bolsonaro a salvo, por exemplo, de
uma denúncia no inquérito das joias, inexplicavelmente mantido na Corte
superior.
O Executivo não desfruta da mesma
discricionariedade. Uma concentração de poderes exacerbada na segurança pública
pode vir a ser questionada no STF, futuro teto de Flávio Dino.
Será o teste da equação montada por Lula. Por
um lado, estendeu ao grupo que comanda o enfrentamento ao bolsonarismo o poder
sobre a segurança pública. Por outro, nomeou ministro de sua confiança para
equilibrar o poder deste mesmo grupo no STF.
Uma análise cuidadosa e aparentemente imparcial das mudanças no ministério da Justiça. Depois de 4 anos de DESgoverno Bolsonaro (que incluía CRIMES cometidos pelos seus dirigentes, como Ricardo Salles, Ramagem, todos os ministros da Educação e o próprio Jair), o primeiro ano do governo Lula teve muitas melhorias, mas a segurança pública ainda é uma grande preocupação dos cidadãos.
ResponderExcluirSSP,secretaria de segurança pública.
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