O Globo
A situação do PT está difícil e complicada
como nunca. Do lado da direita, existem forças políticas de oposição muito
fortes. Lula tem sido obrigado a engolir sapos de diversos tamanhos.
Quando o então presidente Bolsonaro desistiu
de influenciar as decisões do Congresso e entregou ao Centrão a negociação do
Orçamento, abriu mão de um poder que o Executivo já havia perdido, para manter
uma base partidária fiel. Como seu interesse estava em outra ponta do processo
político — na formação de uma base militar e popular, por meio das redes
sociais, que lhe permitisse dar um autogolpe —, não se incomodou com a perda do
controle do Congresso.
Tinha a maioria que impediria qualquer tentativa de impeachment, e os partidos da massa heterogênea de políticos lhe foram fiéis na campanha eleitoral. O presidente Lula venceu a eleição com a mais estreita margem de votos dos últimos anos, mas herdou um Congresso adverso. Tem sido obrigado a engolir sapos de diversos tamanhos, especialmente com a derrubada de vetos e derrotas em votações no Congresso.
Agora mesmo está às voltas com o Orçamento
deste ano, em que vetou R$ 5,6 bilhões de emendas de comissão dos
parlamentares. Em ano eleitoral, o Congresso Nacional aprovou um valor recorde
de R$ 53 bilhões nesse tipo de emendas, além R$ 4,9 bilhões para fundo
eleitoral, o dobro, em valores corrigidos, da última eleição para prefeitos e
vereadores, em 2020.
Esse tipo de verba dá mais poder às cúpulas
da Câmara e do Senado, que usam as emendas para conquistar mais influência
entre os parlamentares. Quando o interesse do governo coincide com a visão
conservadora majoritária no Congresso, como na reforma tributária, o governo
faz avanços significativos. Avança também em ações políticas que independem do
Congresso, como decisões à esquerda na política externa e a retomada de atuação
do BNDES na política industrial.
Mas não tem força política para impor-se
diante da maioria conservadora nas eleições, já que a popularidade de Lula não
se compara ao que já foi. A intenção de Lula — evidentemente é uma estratégia
montada por ele, que o PT teve de engolir — ao ceder espaço nas eleições
municipais, com menos candidatos próprios, é procurar uma convivência melhor
com os partidos tidos como aliados e ter mais segurança nas votações.
Isso revela que o PT não tem quadros
suficientes para tentar fazer muitos prefeitos e vereadores nas próximas
eleições municipais. Nem mesmo em São Paulo, onde terá o candidato do PSOL,
Guilherme Boulos, como cabeça de chapa. Está desistindo de ter penetração
nacional como partido e procura alianças com mais força estadual.
Mesmo que essa grande aliança dê certo na
maioria dos estados, e aliados vençam as eleições, não será uma vitória do PT.
Ele, em muitos casos, apenas pegará carona. É uma aceitação de que a
popularidade de Lula não é mais suficiente para eleger prefeitos e vereadores e
de que o PT não tem condições de impor nada no Congresso — precisa fazer
acordos.
Mostra também como a situação do PT está
difícil e complicada como nunca. Mesmo porque, do lado da direita, existem
forças políticas de oposição muito fortes. O PSD está se transformando numa
espécie de PMDB de antigamente, com cobertura nacional, apoios diversificados e
situação mais importante que o PT no plano nacional.
Vamos ver se a estratégia de Lula funciona.
Seja como for, ela mostra claramente que o PT não tem mais condições de tentar
ser o grande partido nacional que já foi, situação que gostaria de manter. Com
o controle do Congresso pelos partidos do Centrão, as vitórias passam a ser dos
congressistas, e não do governo Lula.
As votações mostram a independência dos
partidos aliados, que não têm compromisso com os valores petistas. Quando o PT
controlava o Congresso por meio de emendas e negociações que muitas vezes eram
negociatas, os partidos envolvidos não tinham poder político, seguiam o líder.
Hoje, não precisam do líder para aprovar ou derrotar propostas e têm força para
derrubar vetos quando bem lhes aprouver. Como ameaçam fazer com o veto às
emendas de comissões.
Sei.
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