O Estado de S. Paulo
O Equador é o mais recente exemplo da expansão do crime em países latino-americanos
Países latino-americanos são muito diferentes
entre si e muito similares em pelo menos dois pontos. Não conseguem frear a
expansão do crime organizado. Não conseguem promover de forma sustentável a
expansão da economia.
A relação entre uma coisa e outra não deve ser estabelecida como causalidade mecânica (do tipo “menos prosperidade na economia significa mais prosperidade do crime organizado”). A complexidade da situação está no fato de serem comuns a esse enorme conjunto de países o desarranjo institucional e a incapacidade das diversas sociedades de se organizarem em torno de desafios percebidos.
Se pobreza e desigualdade foram sempre
identificadas como graves problemas “estruturais” que o baixo crescimento
relativo das economias não consegue resolver, agora acrescente-se o crime a
essas mazelas. Segurança pública virou elemento importante em eleições recentes
até em países como Chile e Argentina, que exibiam taxas de criminalidade mais
“aceitáveis”.
Os atuais eventos no Equador são mais um
exemplo da durabilidade, amplitude e penetração do crime organizado. E
evidenciam como um “pico” de violência (exacerbado pela força de imagens) se
transforma rapidamente em ameaça percebida ao próprio Estado. É como se uma
grave doença “de repente” se tornasse conhecida, e então vem o medo dela.
Na verdade, é longa e se espalha por quase
toda a região (há pequenas exceções, como o Uruguai) a história de episódios de
enfrentamento aberto entre crime organizado e a autoridade estatal. Basta
lembrar a guerra de Pablo Escobar na Colômbia nos anos 90, o Sendero Luminoso
no Peru, a sucessão de vários cartéis do narcotráfico e sua contestação de
governos mexicanos, a dissolução da política na América Central trazida pelas
“maras” e, não por último, a ampliação das facções criminosas e milícias no
Brasil.
Há exemplos também bemsucedidos de
recuperação da autoridade do Estado – o mais famoso deles é o da cidade de
Medellín, na Colômbia. Mas permanecem como eventos “isolados” numa paisagem de
incapacidade generalizada de sociedades de países latinoamericanos de se
mobilizarem frente a fenômenos – como economias de crescimento insuficiente e
crime organizado de crescimento exuberante – que, no fundo, corroem brutalmente
essas mesmas sociedades.
O problema, diria uma antiga escola de
historiadores, é cultural no sentido mais amplo da palavra. Cultura entendida
como a intrincada soma de tudo: história, geografia, economia, política,
sociedade. É assim que somos?
Sim.
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