Folha de S. Paulo
Operação atinge alto escalão de uma máquina
que atuou para interferir no processo democrático
As articulações para manter Jair
Bolsonaro no cargo se davam com desenvoltura no coração do governo.
Uma equipe formada por políticos, militares, operadores e agitadores digitais
dava expediente nos palácios, ministérios e quartéis.
Os alvos da operação da Polícia Federal nesta quinta-feira (8) foram alguns dos principais integrantes dessa conspiração, liderada de maneira pouco discreta por Bolsonaro. Ainda que houvesse barulho em público, a revelação dos detalhes do envolvimento de cada personagem dependeu de uma testemunha com acesso privilegiado à trama golpista.
A delação do coronel Mauro Cid, auxiliar inseparável de Bolsonaro, abasteceu a ação da PF contra a cúpula da organização. Foi o ajudante de ordens o autor de depoimentos sobre a atuação direta do então presidente e de outros dois nomes-chave: o ex-assessor Filipe Martins e o almirante Almir Garnier dos Santos.
Cid revelou episódios que deram materialidade
ao complô e derrubaram a versão de que a tentativa de golpe era um delírio de
vovós e militantes amalucados. Segundo o coronel, após a derrota na reeleição,
Martins levou ao presidente a minuta de um decreto para segurar Bolsonaro no
poder, convocar novas eleições e prender autoridades.
A atuação do então presidente como líder fica
clara no relato de Cid. O auxiliar afirmou que Bolsonaro aprovou o texto e
apresentou o plano aos chefes das Forças Armadas. Segundo o coronel, Garnier,
comandante da Marinha, foi o único a apoiar a investida golpista.
Além dos personagens delatados por Cid, a
ação da PF chegou a personagens que deram respaldo institucional à trama. Ali
estavam o general Walter
Braga Netto, que inaugurou a instrumentalização do Ministério da Defesa
para detonar a credibilidade das urnas eletrônicas, e Valdemar
Costa Neto, que usou o PL como veículo para contestar a votação.
A operação atingiu o alto escalão de uma
máquina que usou recursos políticos e militares para interferir no processo
democrático.
Sem discussão.
ResponderExcluir