O Estado de S. Paulo
Toffoli dobra a aposta e leva o escândalo da suspensão de multas à mídia internacional
O ministro do STF Dias Toffoli deu de ombros
para a repercussão fortemente negativa à suspensão do pagamento de multas
bilionárias da J&F e da Novonor/Odebrecht por corrupção e dobrou a aposta
com uma briga para lá de audaciosa: contra a Transparência Internacional (TI),
ONG respeitada no mundo inteiro por seu monitoramento justamente da...
corrupção. Um escândalo que parecia doméstico agora é internacional.
No Índice de Percepção da Corrupção de 2023, feito pela TI, o Brasil caiu dez posições, para o pior desempenho desde 1995, em 104º lugar entre 180 países. O relatório, que atribui a culpa ao governo Jair Bolsonaro e ao primeiro ano do terceiro mandato de Lula, cita Dias Toffoli nove vezes.
“Talvez os exemplos mais graves tenham sido
as ações do ministro Dias Toffoli, que decidiu, monocraticamente e com fortes
evidências de conflitos de interesses e outras heterodoxias processuais, sobre
demandas que tiveram imenso impacto sobre a impunidade de casos de corrupção
que figuram entre os maiores da história mundial”, acusa o documento. Os
“conflitos de interesses” seriam porque o ministro foi citado nas delações
premiadas de Marcelo Odebrecht, e sua mulher, advogada, atua na defesa do grupo
J&F.
Toffoli reagiu usando a Procuradoria-Geral da
República (PGR) para investigar a TI por suposta apropriação de recursos
recuperados pela Lava Jato.
“Ao invés da destinação dos recursos ser
orientada pelas normas legais e orçamentárias, destinava-se a uma instituição
privada, ainda mais alienígena e com sede em Berlim”, acusou, referindo-se à
ONG.
Seguiu-se uma intensa troca de notas,
enquanto vinha à tona uma informação constrangedora para Toffoli e importante
para a Transparência Internacional: a PGR já tinha analisado as suspeitas de
eventuais desvios da TI e concluído que não havia nada de errado. A ONG apenas
teria dado consultoria sobre a destinação dos recursos da Lava Jato para
projetos e entidades de combate à corrupção.
As decisões de Toffoli, escandalosas desde o
início, só pioram. Têm reflexos nos acordos de leniência das duas empresas
dentro e fora do Brasil, abriram a porteira para a OAS e outras empresas também
pedirem anulação de multas e acabam de virar uma guerra com a Transparência
Internacional, despertando a atenção da mídia mundial.
Além disso, o escândalo ocorre na volta do
Congresso após o recesso, com as armas voltadas não só para o Executivo, mas
principalmente para o Judiciário. E não é que um dos projetos prioritários é
para limitar decisões monocráticas, como foram as de Toffoli? Lula e o governo
estão calados. Até quando?
Até quando?
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