Folha de S. Paulo
Livro faz cartografia dos erros e mostra que
alguns são necessários para que saber avance
Ninguém gosta de fracassar, e isso é um problema. Nossa estrutura psíquica evoluiu para nos afastar de erros. Mas, se varrer falhas para baixo do tapete fazia sentido no Pleistoceno, o mesmo raciocínio não se aplica na modernidade e suas instituições. A ciência, por exemplo, é um sistema no qual resultados negativos e hipóteses frustradas são parte indissociável do ecossistema. O saber não avança sem isso. Não obstante, mesmo sabendo disso, cientistas ficam desapontados quando suas previsões iniciais fracassam. Por vezes, até tentam esconder seus erros —o que pode ser desastroso para o sistema.
Em "Right Kind of Wrong" (o tipo certo de erro), Amy Edmondson (Harvard) traça uma cartografia dos erros. Eles podem ser básicos, complexos ou inteligentes. Podem ocorrer em situações de baixa, média ou alta incerteza. Podem dar-se em contextos já bem mapeados pelo conhecimento, nos nem tanto ou em terreno desconhecido. Cada combinação produz um resultado. Há desde o erro catastrófico do piloto que derruba o avião até os erros que revelam os buracos de uma teoria, abrindo as portas para as chamadas revoluções científicas.O ponto central de Edmondson é que precisamos
entender essa paisagem para desenvolver mecanismos que nos ajudem a evitar os
erros "errados" e aprender com os "certos". Criar ambientes
que ofereçam segurança psicológica para que as pessoas falem abertamente sobre
erros é fundamental para que organizações possam se aprimorar e inovar.
O livro tem uma pegada de autoajuda que não me agrada tanto, mas Edmondson
trata com didatismo um assunto que é fundamental. Ela narra vários casos que
ilustram com muita propriedade as questões abordadas. A autora também se
preocupa em trazer histórias de inovadores que pertençam a grupos
historicamente relegados, como mulheres e negros. Com isso, consegue fugir da
repetição das histórias de sempre, comum em livros desse nicho.
Pois é.
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