Folha de S. Paulo
Católicos devem ter direito à objeção de
consciência, mas quem não oferece todos os métodos contraceptivos não poderia
estar no SUS
É fácil ser liberal em relação a posições com
as quais concordamos. Como defensor do direito ao aborto,
nem pestanejo antes de afirmar em alto e bom som que mulheres devem ser
soberanas sobre seus úteros.
Já defender o direito de um médico ou instituição médica católicos de não realizar procedimentos contrários aos ensinamentos de sua religião, como a inserção de DIUs, é mais sofrido. Mas, como tenho um gosto inexplicável pela coerência, não vejo como não estender aos católicos o princípio de que cada um deve ser livre para definir o que vai ou não fazer, desde que a ação ou inação não se converta em ameaça a terceiros. Não estamos aqui falando de um procedimento de emergência, o que mudaria o caráter da discussão.
Reconhecer que católicos têm direito à
objeção de consciência não implica aceitar que cidadãs fiquem privadas do
acesso ao DIU. O conflito se resolve no nível da gestão. Se um hospital
católico pode se recusar a promover métodos contraceptivos, a decorrência,
matemática, é que o poder público
não pode firmar convênios com essas instituições para que
prestem serviços ginecológicos ou urológicos (vasectomia) pelo SUS. Também não
pode entregar-lhes a gerência de organizações sociais (OSs). Em ambos os casos,
é obrigação do Estado oferecer todas as terapias e procedimentos que constam da
tabela do SUS.
E, nessa interface entre religião e saúde,
penso que há um problema mais grave que a questão do DIU. Trata-se das comunidades
terapêuticas. Não são poucas as unidades federativas que vêm
entregando a grupos religiosos que montam comunidades terapêuticas os cuidados
com dependentes de álcool e outras drogas. De novo, no espírito da
universalidade e laicidade do SUS, não dá para admitir que o acesso a
tratamentos psiquiátricos adquira um viés religioso. O caso se torna ainda mais
tenebroso quando se considera que muitas dessas comunidades incorrem em
violações de direitos humanos.
Uma vergonha!
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