Folha de S. Paulo
A suspensão das aulas na pandemia fez pouca
ou nenhuma diferença; a maioria das escolas quase nada ensina
A julgar pelo domínio de matemática, a
pandemia não afetou o aprendizado médio dos brasileiros na faixa dos 15 anos. E
mais, a queda, onde houve, foi pior entre estudantes de renda mais alta, ao
contrário do que ocorreu em países ricos como Alemanha, França, Islândia e
Suécia.
A informação é do professor da USP e do Insper, Naercio Menezes Filho, reconhecido especialista em economia da educação. Na sua coluna de 26/1 no jornal Valor, ele comparou os resultados de 2019 e 2022 do exame internacional Pisa. Realizada em 81 países, a prova afere conhecimentos de estudantes do mesmo grupo de idade em matemática, leitura e ciências.
O achado surpreende —e configura uma notícia
lamentável. Se a nota média dos brasileiros não se alterou, só 1 em cada cem
atingiu os níveis 5 e 6 em matemática. Tem mais: no conjunto das provas, o
Brasil ficou na rabeira, entre os 20 países com piores resultados. Vale lembrar
que, durante a pandemia, as escolas brasileiras foram as que ficaram fechadas
por mais tempo.
A conclusão do professor é terrível: a
suspensão das aulas fez pouca ou nenhuma diferença para a rapaziada; afinal, a maioria
das escolas quase nada ensina. E quanto mais pobre for o aluno,
maior o risco de aprender pouco.
Menezes encontrou resultados semelhantes ao
analisar os dados da prova nacional do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação
Básica) aplicada a alunos do terceiro ano do ensino médio. À diferença do que
ocorreu com o Pisa, o pesquisador constatou não só declínio no desempenho dos
estudantes entre 2019 e 2021, mas, sobretudo, enormes diferenças entre os
Estados. Naqueles onde o ensino de matemática era muito fraco antes da
pandemia, quase nada mudou. Nos outros, de desempenho algo melhor em 2019, o
declínio foi pequeno. Finalmente, em um terceiro grupo de unidades da
Federação, nada deteve o mergulho águas abaixo.
Ao receber participantes da Conferência
Nacional de Educação, o presidente Lula reiterou a agenda divulgada pouco antes
pelo titular do setor, Camilo Santana: escolas de tempo integral, programa Pé
de Meia para estudantes do ensino médio, fortalecimento da alfabetização,
ampliação das cotas, retomada de obras, aumento da conectividade nas escolas
—iniciativas obviamente bem-vindas. Mas, por si sós, talvez não bastem. A
melhora geral da qualidade e a diminuição dos desníveis entre os grupos sociais
e os estados da Federação pedem visão de conjunto, capacidade nacional de
coordenação e incentivos bem desenhados, o que só Brasília pode prover: não
haverão de brotar espontaneamente das medidas anunciadas pelo ministro e
endossadas pelo presidente.
*Professora titular aposentada de ciência
política da USP e pesquisadora do Cebrap.
Verdade.
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