quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Míriam Leitão - O ano econômico segundo Haddad

O Globo

Ministro fala sobre a negociação com o Congresso, o foco no déficit zero, crescimento da economia e redução dos juros aqui e nos EUA

O ministro Fernando Haddad fechou ontem em conversa com o presidente Lula e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, a solução do problema da MP da reoneração, que tanta reação causou. Será mandado para o Congresso nas próximas semanas um projeto de lei com urgência tratando da reoneração exclusivamente. O programa do setor de eventos, o Perse, e a compensação tributária permanecerão na MP. Na semana que vem deve ser anunciado o novo seguro para reduzir a volatilidade cambial, em mesa na qual estarão o Banco Mundial e o BID, em São Paulo.

Entrevistei por quase uma hora o ministro da Fazenda, a íntegra está transcrita no blog, e foi ao ar ontem à noite na GloboNews. Perguntei sobre a polêmica da semana, a fala do presidente Lula sobre Israel. Ele disse que para ele é muito penoso falar sobre isso como filho de libanês que deixou sua terra pelo crescimento da intolerância religiosa.

— O Padilha (Alexandre, ministro) usou uma expressão no Roda Viva (programa) que eu gostei. Ele falou: aquilo foi um grito de socorro. O presidente passou muitas horas ouvindo depoimentos e vendo imagens fotográficas e filmes sobre o que estava acontecendo em Gaza. O presidente não é um político tradicional que se mantém frio diante da morte de crianças e mulheres na escala que está acontecendo. Eu acho que o grito de socorro do presidente é pertinente. Não podemos ficar indiferentes ao que está acontecendo, que é muito grave.

Sobre o déficit zero, o ministro admitiu que pode vir a ser alcançado em outro tempo que não o ano- calendário.

— Enquanto eu for ministro da Fazenda, vou perseverar nessa direção, porque eu acredito que isso vai trazer muitos benefícios para o Brasil. Não tenho nenhuma dúvida de que nós estamos fazendo o que precisa ser feito. Temos que continuar para ter a certeza que esse resultado (déficit zero) virá. Virá em dezembro, em fevereiro do ano que vem ou em outubro desse ano, mas virá. Temos que perseverar para que ele venha.

Sobre a relação com o Congresso, Haddad disse que o que foi acordado entre legislativo e executivo foi cumprido, e só foi vetado o que não estava no acordo. No caso das emendas de comissão, ficou de fora o valor que excedeu ao acordado, e também o prazo de empenho das emendas. Mas o ano será de intensa movimentação da agenda econômica como foi a do ano passado. Sobre 2023, Haddad lembra que todas as matérias que o governo mandou foram aprovados, mas nada saiu exatamente como foi enviado ao Congresso, o que mostra como o governo está aberto à negociação.

— Agora em março, vamos mandar toda a regulamentação da reforma tributária. O Brasil terá um dos melhores sistemas tributários do mundo em muito pouco tempo. Tudo que é polêmico, tudo o que é controverso, tudo o que não houver acordo, vamos discutir. Nós temos que garantir que acontecerá em 2024 o que aconteceu em 2023.

Perguntei sobre redução de despesas, ele disse que houve corte de gastos tributários. Mas não só. O Ministério do Desenvolvimento Social fez cortes no Bolsa Família, excluindo beneficiários não enquadrados, de R$ 7 bilhões.

—Está havendo um esforço. O Ministério do Planejamento é que está radiografando melhor essas despesas, e vai começar a apresentar um conjunto de possibilidades para o presidente da República.

Quis saber sobre o risco de que a transição ecológica seja capturada por alguns setores, em vez de beneficiar toda a economia. Ele disse que esse é o ponto central, porque a transformação tem que beneficiar toda a sociedade, e não “o velho patrimonialismo brasileiro”.

Haddad está otimista em relação à economia brasileira este ano. Ele acredita que, em junho, os juros americanos vão cair e isso beneficiará o Brasil. A queda da Selic vai ajudar que o crédito seja um dos motores do crescimento, que já está sendo revisto para cima pelo mercado.

Perguntei se ele era feliz em um ministério onde há tanta crise.

— Aqui, você fica muito feliz e muito triste, todos os dias. É muito intenso, então a cada vitória a gente comemora, brinda, celebra. No dia seguinte, você pode estar em outra situação completamente diferente. Então é difícil você estar feliz o tempo todo num cargo como esse. Mas eu tive vários momentos de muita alegria com o Brasil ano passado, que se forem mais frequentes vão tornar a nossa vida melhor.

 

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