Folha de S. Paulo
Referência nas ciências sociais do Brasil, acadêmico foi opositor da ditadura e um dos críticos iniciais da Lava Jato
SÃO PAULO e RIO DE JANEIRO - Morreu
nesta quarta-feira (21) aos 85 anos Luiz Werneck
Vianna, professor e ex-presidente da Anpocs (Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais) e referência na
sociologia brasileira.
O acadêmico foi autor de livros como
"Liberalismo e Sindicato no Brasil" (1976), "Esquerda Brasileira
e a Tradição Republicana" (2006) e a "A Judicialização da Política e
das Relações Sociais no Brasil" (1999). Foi mestre em ciência política
pelo Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) e doutor
em sociologia pela USP.
Também era graduado em direito e foi advogado
de presos políticos durante a ditadura
militar. Integrante do Partido Comunista Brasileiro nos anos 1960, o
sociólogo teve que ir para a clandestinidade durante o período autoritário e
passou um período exilado no Chile.
Vianna foi criado no bairro de Ipanema, na
zona sul da cidade do Rio de Janeiro, e frequentou colégios de elite, mas dizia
que sua família era de "de classe média, de recursos não abundantes,
também não muito escassos".
Em depoimento a centro de pesquisa da FGV
(Fundação Getúlio Vargas), falou sobre a aproximação no auge da ditadura de
intelectuais com o MDB, que incluía a atuação de Fernando
Henrique Cardoso, também acadêmico.
"Fizemos esse programa, que foi editado um livrinho vermelho: era o programa do MDB de 74 e fomos a uma reunião em Brasília", disse ele.
A eleição parlamentar de 1974 marcou um dos
principais reveses da ditadura militar.
Também no depoimento, disse que conheceu o
hoje presidente Lula também naquela época, em encontro de delegados sindicais.
Dizia lamentar que os grupos políticos do petista e do tucano tivessem perdido
conexão.
Werneck Vianna sempre se manteve atuante no
debate político do país. Mais recentemente, em 2022, escreveu que Jair
Bolsonaro representava o risco real de um "fascismo
–tabajara, mas fascismo– que nos ronda desde os anos 1930, derrotado por duas
vezes, em 1945 e 1985, mas nunca erradicado, entranhado como está em nossa
história de modernização capitalista autoritária".
Também foi crítico em suas análises
sobre a Operação
Lava Jato desde os estágios iniciais da investigação,
classificando as autoridades como "tenentes de toga" —em referência
aos jovens militares da década de 1920.
As críticas de Vianna à Lava Jato
levaram o colunista
da Folha Elio Gaspari a escrever em dezembro de 2016:
"Werneck sabe do que fala. Conhece a história da República e traçou o
melhor retrato do Judiciário nacional no seu livro 'Corpo e Alma da
Magistratura Brasileira'. Durante dez anos, ajudou a aperfeiçoar os
conhecimento de toda uma geração de juízes e promotores como professor da
Escola da Magistratura. Sua perplexidade diante do rumo tomado pelo conjunto de
iniciativas derivadas da Operação Lava Jato reflete a ansiedade de um mestre
diante do tenentismo togado".
A PUC do Rio de Janeiro, onde lecionou,
publicou nota de pesar afirmando que ele foi um intelectual de "grande
relevância para o campo da sociologia e para a comunidade acadêmica como um
todo", deixando "'marca indelével na história do pensamento social do
Brasil".
"Durante sua trajetória, contribuiu de
forma significativa para o avanço do conhecimento científico e para o debate
público, sempre pautado pela ética, pela integridade e pelo compromisso com a
construção de uma sociedade mais justa e democrática."
O Hospital Copa D'Or informou que não tinha
autorização para divulgar mais detalhes da morte.
A Anpocs, presidida pelo professor entre 2003
e 2004, disse que as obras dele se tornaram clássicas nos estudos sobre o país.
"Seu legado intelectual para as Ciências
Sociais é inestimável, e seguirá inspirando reflexões sobre o Brasil do passado
e do presente."
O Departamento de Ciência Política da
Universidade de São Paulo afirmou: "Werneck foi um dos cientistas sociais
brasileiros mais importantes da sua geração. Nos seus mais variados trabalhos
juntava uma perspectiva analítica e de intervenção".
"Perde a inteligência brasileira um dos
seus mais ilustres representantes. Perdi um velho camarada e amigo. Meu
profundo sentimento pelo falecimento do grande cidadão brasileiro, Luiz Werneck
Vianna. Meus pêsames a família e seus amigos e amigas", escreveu o
ex-deputado Roberto Freire, que presidiu o PCB e se tornou depois presidente do
PPS, que viria a se tornar o Cidadania.
O deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ)
afirmou que o acadêmico "espalhou senso de justiça, ciência política
comprometida com os explorados e inteligência crítica". "Cumpriu sua
missão nessa vida. Fará falta nesses tempos de tanta indigência
intelectual."
Um sociólogo de verdade e DA VERDADE!
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