O Globo
60 anos depois do golpe que suprimiu a
democracia, integrantes das Forças Armadas devem virar réus por tentativa
frustrada arquitetada por Bolsonaro
A Operação Tempus Veritatis mostra já a
partir do nome que a hora da verdade pode tardar, mas chega. Às vésperas dos 60
anos do golpe de 1964, os militares brasileiros estão prestes a encarar o maior
julgamento de integrantes das Forças Armadas pela Justiça comum por crimes
contra o Estado Democrático de Direito.
A condução de como se construirá o caminho de
quantos e quais oficiais, da reserva e da ativa, ao banco dos réus é a parte
mais delicada e uma das mais cruciais da apuração dos atos igualmente
criminosos que culminaram na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023.
A Polícia Federal, o Ministério Público Federal e o ministro Alexandre de Moraes tratam com extrema cautela esse capítulo central da apuração, que se desdobra em múltiplas frentes. Tanto é que, mesmo diante de robustas e variadas provas incluídas na decisão de 135 páginas do relator, não se avançou em pedidos como a prisão preventiva de generais flagrados em conspiração contra a democracia, como Braga Netto e Augusto Heleno.
A reação do governo, capitaneada pelo próprio
presidente Lula e corroborada pela nota telegráfica do Ministério da Defesa,
também vai na linha da contenção. Contribui para o tom mais cauteloso o fato de
o Ministério da Justiça estar sob nova direção, com o discreto Ricardo
Lewandowski. Nem o ministro nem a cúpula da Polícia Federal se manifestaram
para além do que aparece na petição que justificou as decisões de Moraes.
Porque o que vai ali já é de extrema gravidade e de materialidade evidente.
Não deverão prosperar os clamores dos mais
jacobinos à esquerda, que querem de Lula ações extremas contra os militares. O
presidente sabe que persistem na caserna e na sociedade focos de inconformismo
com sua eleição e a evolução das investigações.
Não quer tocar fogo no paiol, como tentou
fazer, naquele tom pseudocomedido, o senador e ex-vice-presidente da República
Hamilton Mourão (RS), que, embora não tenha sido incluído em nenhum grupo
golpista montado por Bolsonaro e seus assessores, demonstra não divergir do que
se tramava ali. Pelo contrário: ao pregar a reação das Forças Armadas, Mourão
conclama, da tribuna do Senado, a uma reação nas ruas e nos quartéis que
Bolsonaro tentou inflamar, resultando na barbárie contra prédios dos três
Poderes há um ano.
Todo o pânico em relação à delação de Mauro
Cid nas hostes bolsonaristas se mostrou justificado. Embora as revelações
feitas por ele não abarquem a totalidade dos elementos incluídos pela PF na
nova fase do inquérito dos atos antidemocráticos, é do material apreendido
quando da sua prisão que foram extraídos alguns dos indícios mais contundentes
de conspiração sediciosa, como o vídeo (!) de uma reunião em que o presidente
exige que todos os seus ministros concordem em propagar desinformação sobre o
processo eleitoral, e o espantoso Augusto Heleno fala sem papas na língua em
virar a mesa antes mesmo das eleições e em infiltrar arapongas na campanha dos
adversários.
Ironicamente, Bolsonaro, um militar proscrito
do Exército por tramar um golpe tabajara quando jovem, será o responsável por
levar oficiais militares, inclusive generais de quatro estrelas, ao banco dos
réus depois de uma redemocratização calcada na ideia de anistia ampla, geral e
irrestrita, que evitou a prestação de contas com a História realizada na
vizinha Argentina — que não se furtou a julgar os crimes da Junta Militar e
levou vários presidentes do período a um julgamento sem contemporizações.
Por aqui, a “hora da verdade” demorou 60 anos
e não se dará pelo golpe que aniversaria, mas pela cooptação de uma parcela da
caserna por alguém que já tinha demonstrado inúmeras vezes não ter apreço à
democracia e, ainda assim, foi abraçado como salvador da pátria pelos quartéis.
Jair Bolsonaro sempre foi um MAU militar. Isto era dito e sabido por seus superiores! Depois se mostrou um péssimo político e um presidente CRIMINOSO!
ResponderExcluirPois é.
ResponderExcluirEstrategicamente os militares se infiltraram no sindicalismo do ABC paulista e 40 anos após o golpe falhou e atualmente, choramingando, essa fofoca dá caminho a outros golpes, sai dessa Brasil!
ResponderExcluirsenadordossantosandion@gmail.com