Folha de S. Paulo
Política parlamentar e judicial deve pesar
mais no futuro do capitão
Jair
Bolsonaro convocou manifestação
para a avenida Paulista a fim de conseguir uma foto. É o que diz
literalmente no vídeo de Carnaval em que chamou o povo para o que seria um
"ato pacífico em defesa do nosso Estado democrático de direito", no
qual pretende se defender das acusações dos "últimos meses".
Bolsonaro quer reunir forças para um
contra-ataque. Mas, a não ser em caso de fiasco ou multidão muito excepcionais,
o destino do capitão das trevas depende mais da política, parlamentar e
judicial, e dos achados da polícia.
"Mais do que discurso, uma fotografia de todos vocês, porque vocês são as pessoas mais importantes desse evento, para mostrar, para o Brasil e para o mundo, a nossa união, as nossas preocupações e o que nós queremos: Deus, pátria, família e liberdade", disse.
Vestido com a camisa amarela da seleção,
pediu aos manifestantes que apareçam de verde e amarelo.
Especula-se que Bolsonaro tenha convocado o
comício "antes que seja tarde demais". Isto é, que consiga juntar um
tanto de gente antes
que seus seguidores se desanimem ou comecem a desaparecer; antes que esteja
com o pé na cadeia.
Em tese, a hipótese de que possa arrastar
multidões talvez intimidasse quem o processa ou investiga e políticos. Levar
governadores e prefeitos ajudaria, também.
Bolsonaro teve quase metade dos votos válidos
em 2022. Apenas 7% de seus eleitores se arrependem do que fizeram, segundo
Datafolha de dezembro do ano passado. Na aritmética, ainda teria uns 44% dos
votos, pois.
Não se sabe o que esse eleitorado passou a
pensar depois da divulgação mais recente de imundícies da cúpula do
bolsonarismo. Mas, mesmo depois de conhecidas todas as perpetrações do capitão
das trevas, ele teve tamanha votação, não importa que muito eleitor apenas
tivesse e tenha aversão maior a Lula.
O risco de revelação de novas infâmias até
dia 25 de fevereiro pode não pesar muito, se estiver restrito à política do
golpe.
Assim, não é improvável que Bolsonaro junte
multidão bastante para encher bem mais do que uma foto, ainda mais na avenida
Paulista, lugar propício para inflações visuais ilusórias.
A medida dos números de um fiasco será
controversa. Mas o comício fascista ("Deus, pátria, família e
liberdade", pelo líder) teria efeito maior apenas se a multidão enchesse a
avenida de fato.
Por ora, o destino de Bolsonaro depende mais
de política e polícia. Ou seja, depende de quão longe o Supremo está disposto a
ir para condenar o capitão, mas não apenas.
Depende de investigação incontestável do
golpe tramado. Depende da reação da direita parlamentar contra o Supremo. Esse
conflito vai além do processo Bolsonaro. Toca fundo no medo de qualquer
parlamentar e político de ser preso, vide a reação contra a Lava Jato.
Toca fundo também naqueles inelutavelmente
vinculados ao projeto bolsonarista ou extremista, tal como parte das bancadas
evangélica e do agro. Depende ainda da avaliação de risco do dano que a
proximidade com o capitão possa causar na eleição deste ano.
Na convocação do ato, Bolsonaro pediu que não
levem "faixas ou cartazes contra quem quer que seja". Isto é, procura
se isentar de manifestações golpistas do seu povo na rua. No fundo, ou no raso
atrás do palco da farsa, sempre estimulou os comícios da plebe golpista.
Em outubro de 2023, em ato contra o direito
ao aborto, em Belo Horizonte, disse que o 8 de Janeiro eram "brasileiros
patriotas que foram se manifestar, entraram em uma arapuca, numa armadilha
patrocinada pela esquerda. E hoje muitos irmãos nossos estão sendo condenados
por esses atos", embora dissesse reprovar o quebra-quebra.
Bolsonaro ainda vai fazer muito para juntar
os "irmãos" do golpe.
Absurdo!
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