Folha de S. Paulo
Agro, aéreas falidas, setor de eventos e
turismo, siderúrgicas etc. pedem ajudas variadas ao governo
O ano da política politiqueira vai começar
quente para Luiz Inácio Lula da Silva
e Fernando
Haddad. Haverá turumbamba logo de cara porque o Congresso reclama cargos
atrasados; porque quer reaver emendas que Lula vetou, porque está fulo com
medida provisória que derrubou decisões parlamentares reiteradas, porque a
bancada religiosa não quer que mexam com suas prebendas etc.
O ano da política empresarial havia começado
doce, ao menos para indústrias que esperam receber crédito mais fácil. Mas
ficou logo azedo para o governo, esculachado por reeditar a política industrial
de Lula 2 e Dilma 1 —não foi bem isso, mas "imagem é tudo".
O ano vai ficar mais difícil porque empresas
e setores formam fila no Planalto e na Fazenda a fim de pedir socorros
variados. Quem pede?
Fazendeiros de grãos, o pessoal do leite. O
agro que quer mais subsídio para o seguro rural. "Fazendeiros do ar",
as companhias aéreas, algumas quase falidas, que pedem subsídio grosso na veia
das asas.
A lista não acabou. Há o caso das siderúrgicas, que reclamam da avalanche de importações de aço, da China em especial. Há as empresas que perdem benefícios fiscais com a desativação do Perse, daqui a dois anos. Esse "Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos" foi criado em 2021, na epidemia, quanto tais negócios foram arrasados (embora não seja mais assim). Era para durar dois anos. O Congresso prorrogou.
Pelo menos 35 entidades do setor criticam
Haddad e o fim do programa, decidido via medida provisória no final do ano. São
agências de viagem, hotéis e resorts, empresas de formaturas, de eventos,
feiras e congressos, de turismo, de cenografia e estandes, de festivais, de
produções musicais, de cruzeiros, cinemas, parques. O subsídio custou pouco
mais do que R$ 16 bilhões em 2023, diz o governo. O comando da Câmara quer
restaurar o programa.
Tem mais. Tem os 17 setores que podem perder
o desconto no pagamento de imposto sobre a folha salarial
("desoneração"), derrubado de novo por medida provisória no final do
ano passado. Mais na surdina, tem a indústria naval,
que pode conseguir um crédito oficial extra.
Agricultores reclamam de perdas com
"eventos climáticos" (secas, calores e chuvas demasiados), da queda
do preço das commodities, de custo alto de produção, de dívidas. Querem crédito
subsidiado para capital de giro, adiamento de débitos com financiamentos da
safra 2023/24 etc. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, tem dito que virá
ajuda do governo. A Confederação da Agricultura e da Pecuária mandou nesta
semana um listão de pedidos para o Planalto.
Desde o ano passado, o agro também pede mais
subsídios para o seguro rural. Com acidentes climáticos recorrentes, fica claro
que o planejamento de riscos de plantio e de seguros é precário, para dizer o
menos. Apenas dar subsídio, se é o caso, não resolve, porém.
Houve de fato maré de importações de aço da
Ásia em 2023. As siderúrgicas dizem que podem parar parte da produção. Desde o
ano passado, querem imposto maior sobre aço importado.
O pessoal das indústrias consumidoras de aço
retruca que a tarifa extra vai encarecer o produto deles. Que as siderúrgicas
reclamam de barriga cheia. O pessoal do leite também se queixa de importações;
diz que um benefício fiscal para empresas compradoras de leite nacional,
aprovado em 2023, vai chegar tarde.
Alguns desses lobbies têm bancadas no
Congresso, como o agro. Outros não tem tanta força, mas podem arregimentar
parlamentares bastantes para criar mais problema político para Lula e Haddad. O
governo, porém, tem alguma culpa no cartório dos lobbies. Não raro, um ministro
ou similar sai por aí a dizer que é preciso socorrer ou apoiar a empresa
nacional. Pois então.
Verdade.
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