O Globo
Fora do governo, bolsonaristas se organizam
para transformar comissões da Câmara em trincheiras de guerra cultural
Caroline de Toni foi uma aluna esforçada de
Olavo de Carvalho. O guru do bolsonarismo morreu, mas ela segue fiel à sua
cartilha. Investe na radicalização ideológica, no armamentismo e na tática da
guerra cultural.
A deputada do PL vai presidir a Comissão de
Constituição e Justiça, a mais importante da Câmara. A escolha não é caso
isolado. Fora do governo, a extrema direita se organizou para ocupar novos
palcos. Comandará os colegiados que debatem educação, segurança, temas da
família.
De Toni integra a bancada dos detratores do
Supremo. Já acusou o tribunal de chefiar uma “ditadura judicial” e pediu a
destituição do ministro Alexandre de Moraes. Seus ataques têm um quê de
autodefesa. Ela era próxima ao ex-deputado Daniel Silveira, condenado por
ameaças à Corte, e chegou a ser investigada por ligação com atos
antidemocráticos.
Frequentadora de clubes de tiro, a olavista costuma divulgar fotos de fuzil a tiracolo. No ano passado, apresentou projeto para permitir que os estados legislem sobre a liberação de armas de fogo. A ideia já foi declarada inconstitucional.
A deputada gosta de fustigar minorias e
movimentos sociais. Para acuar os sem-terra, propôs tipificar as ocupações como
crime de terrorismo. Para assustar os indígenas, prometeu um “banho de sangue”
se o marco temporal fosse derrubado. Ela ainda tentou revogar a cota mínima de
30% de candidaturas femininas. Alegou que “apenas uma parcela muito pequena das
mulheres” se interessaria por política.
Nikolas Ferreira é o novo presidente da
Comissão de Educação. Campeão de votos em 2022, ele topa tudo para fazer
barulho nas redes. Já defendeu a legalização de partidos nazistas e foi à
tribuna de peruca loura para debochar de transexuais.
O deputado se projetou ao fabricar polêmicas,
espalhar notícias falsas e insultar rivais. Em sua gestão, problemas reais da
educação, como a evasão escolar e os salários dos professores, devem perder
espaço para espantalhos como “ideologia de gênero” e “banheiros unissex”.
O PL também se esmerou ao indicar o
presidente da Comissão de Previdência e Família. O escolhido foi o deputado
Pastor Eurico, que sonha em proibir o casamento homoafetivo.
O avanço da ultradireita tem sido descrito
como mais um revés para o governo na Câmara. É verdade, mas isso não conta toda
a história. A vitória do extremismo é uma derrota do Parlamento. Ganha a
política do ódio, perdem a civilidade e a democracia.
Muito bom!
ResponderExcluirVerdade.
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