sexta-feira, 8 de março de 2024

Bernardo Mello Franco - Novos palcos para o extremismo

O Globo

Fora do governo, bolsonaristas se organizam para transformar comissões da Câmara em trincheiras de guerra cultural

Caroline de Toni foi uma aluna esforçada de Olavo de Carvalho. O guru do bolsonarismo morreu, mas ela segue fiel à sua cartilha. Investe na radicalização ideológica, no armamentismo e na tática da guerra cultural.

A deputada do PL vai presidir a Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante da Câmara. A escolha não é caso isolado. Fora do governo, a extrema direita se organizou para ocupar novos palcos. Comandará os colegiados que debatem educação, segurança, temas da família.

De Toni integra a bancada dos detratores do Supremo. Já acusou o tribunal de chefiar uma “ditadura judicial” e pediu a destituição do ministro Alexandre de Moraes. Seus ataques têm um quê de autodefesa. Ela era próxima ao ex-deputado Daniel Silveira, condenado por ameaças à Corte, e chegou a ser investigada por ligação com atos antidemocráticos.

Frequentadora de clubes de tiro, a olavista costuma divulgar fotos de fuzil a tiracolo. No ano passado, apresentou projeto para permitir que os estados legislem sobre a liberação de armas de fogo. A ideia já foi declarada inconstitucional.

A deputada gosta de fustigar minorias e movimentos sociais. Para acuar os sem-terra, propôs tipificar as ocupações como crime de terrorismo. Para assustar os indígenas, prometeu um “banho de sangue” se o marco temporal fosse derrubado. Ela ainda tentou revogar a cota mínima de 30% de candidaturas femininas. Alegou que “apenas uma parcela muito pequena das mulheres” se interessaria por política.

Nikolas Ferreira é o novo presidente da Comissão de Educação. Campeão de votos em 2022, ele topa tudo para fazer barulho nas redes. Já defendeu a legalização de partidos nazistas e foi à tribuna de peruca loura para debochar de transexuais.

O deputado se projetou ao fabricar polêmicas, espalhar notícias falsas e insultar rivais. Em sua gestão, problemas reais da educação, como a evasão escolar e os salários dos professores, devem perder espaço para espantalhos como “ideologia de gênero” e “banheiros unissex”.

O PL também se esmerou ao indicar o presidente da Comissão de Previdência e Família. O escolhido foi o deputado Pastor Eurico, que sonha em proibir o casamento homoafetivo.

O avanço da ultradireita tem sido descrito como mais um revés para o governo na Câmara. É verdade, mas isso não conta toda a história. A vitória do extremismo é uma derrota do Parlamento. Ganha a política do ódio, perdem a civilidade e a democracia.

 

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