O Globo
Ricardo Lewandowski foi a Mossoró. De novo.
Para “dar uma incerta”. Ele mesmo de paradeiro recente incerto. E então a
incerta — o reaparecimento. Chegou-chegando, com aquela energia boleto-free de
juiz aposentado ora parecerista. Para pegar a tropa de surpresa. (E para nos
lembrar: há um governo de turno.) Um mês depois da inédita fuga de dois
traficantes de presídio federal.
Palavras do ministro da Justiça e Segurança
Pública, concluídos os encontros com autoridades sobre as buscas aos
criminosos:
— Vim para cobrá-los. Precisava dar uma
incerta, como se diz no meio militar. A polícia me garante que serão
capturados, mas não sabemos quando.
Cobrado, foi cobrar. Agastado, sobrevoou a caatinga desgastada e assegurou a foto-clichê. Perdido, encontraria outros perdidos. Não os fugitivos. Os que garantem. Garantem a captura. Nalgum momento. “Não sabemos quando.” (A alternativa sendo haver hora marcada para prisão.) Sabemos que o ministro garantista desconfia do garantido — ou não teria passado a revista sem aviso prévio.
A reportagem de Renata Agostini, neste GLOBO,
é impagável obra de arte jornalística. Ela acompanhou Lewandowski na viagem de
volta. Mais que perdido, o homem está arrependido:
— Problema é o que não falta. Trato de espião
russo, de Allan dos Santos, de um acordo com o Conselho Nacional de Justiça
para que tenhamos mais informações sobre operações financeiras suspeitas. Há a
questão da Venezuela e dos refugiados. A lista é grande.
Estava “ganhando muito dinheiro”, dedicado a
produzir pareceres sobre ação que corre no tribunal de que está aposentado faz
menos de ano. A lista é grande — de conflitos. Problema é o que não falta —
para nós. Como ex-juiz da Corte constitucional brasileira, estava “ganhando
muito dinheiro” sossegado. O presidente charmeur da República o
chamou. Irresistível “encantador de serpentes”.
A cadeira ainda estava quente quando lhe caiu
no colo uma crise — crise de segurança na segurança pública — que mina a
avaliação do governo Lula.
Uma das outrora inexpugnáveis penitenciárias federais tinha celas com parede de
papier-mâché, câmeras de vigilância inoperantes, postes sem luz, cercas
meio-eletrificadas e canteiro de obras com ferramentas cortantes esquecidas.
Não sendo Flávio Dino,
o pai da criança, e não tendo os instrumentos com que o antecessor (pai também
da democracia) tiraria o corpo fora e culparia Bolsonaro, Lewandowski se meteu
numa gruta — não uma das 400 existentes na região — e só saiu para exercitar o
otimismo dos exaustos, também conhecido por delírio:
— É uma oportunidade de fazer uma reforma nos
presídios. Imagine se tivesse ocorrido a fuga de alguém como o Marcola? Estamos
muito mais preparados agora.
A declaração — melhor a gruta — não é de
secretário de administração penitenciária de um claudio-castro. Um desses que
falam em melhorar o bloqueio de sinais de telefonia nas cadeias. O ministro de
Estado, ex-STF,
identifica “dividendos” no episódio. Dividendos extraordinários – ops!
Um ano de governo, presos extraindo
vergalhões do cárcere para lhe cavar a parede — e então, fugas consumadas,
desacreditado o sistema, uma chance de reformar as penitenciárias. Por que não
antes?
Era necessário um motivo. Um gancho. A
ocorrência gera a oportunidade. (A Odebrecht, se habilitada a levantar Abreu e
Lima, poderia tocar a obra. Conhece a matéria.) Ademais, não foi o chefão do
PCC a escapulir. “Estamos mais preparados agora” — com o que se entende que as
lâmpadas foram trocadas. Marcola fica. Há luz. Falta iluminar como se terá dado
a fuga sem ajuda interna — sem apoio externo.
São presídios de segurança máxima pelos quais
— em busca de segurança máxima — o governo já anunciou “a compra de
equipamentos de videomonitoramento e câmeras térmicas, construção de muralhas
ao redor das penitenciárias, instalação de cercas elétricas e aumento das
revistas diárias”.
Muralhas ao redor das penitenciárias. Camada
adicional — mais alta — de segurança máxima. Solução criativa de especialista.
— Não sou pirotécnico. Tenho perfil técnico.
Maneira elegante de informar que não é Dino.
Nem Dino nem — informa o cronista — técnico. Alguém escolhido, com serviços
prestados, para continuar se queimando, sob a expectativa de matar um leão —
uma lei das estatais — por dia. Doravante no Executivo. É diferente. Ainda não
se encontrou. Não desistirá. O arrependido-cansado que, tendo-se em alta conta,
vai para o sacrifício — não se sabe de quem.
— Uma eventual renúncia minha geraria uma
crise. Não está no meu horizonte. Vou ficar até achar que a missão está
cumprida.
Cumprida a missão, no horizonte: mais
pareceres. Sem renúncias. Sem incerta. Sem crise.
He,he... O Daniel,aqui,não disse nada.
ResponderExcluirMAM