Revista Veja
Precisamos debater escolas e não prisões
Em 2026 o Brasil terá sua décima eleição presidencial desde a redemocratização. Depois de quatro décadas, porém, a democracia está em dívida com a nação e o povo ao deixar a maior parte da população no analfabetismo para o mundo contemporâneo. Mas tudo indica que o próximo pleito ainda não será o momento em que os eleitores escolherão pagar essa dívida, enfrentando os desafios e custos necessários para assegurar educação de qualidade para todas as crianças brasileiras. Os temas centrais dos debates serão outra vez crescimento econômico, segurança pública, saúde, distribuição de renda, pobreza, corrupção — pode ser até mesmo mais universidades, dificilmente educação de base, que continuará sendo questão relegada aos municípios, pobres e desiguais.
Nada indica que haverá a percepção de que a
tragédia social e econômica decorre, sobretudo, embora não apenas, do descuido
com a principal causa de nossa demora para construir um país eficiente, justo,
pacífico, sustentável, com liberdade plena. Cada um dos problemas fundamentais
do Brasil passa pela educação de base com qualidade para todas as crianças.
Enquanto outros países já nos superaram, ainda não conseguimos escapar da
armadilha da nossa baixa renda per capita. A Coreia do Sul, que há quarenta anos
tinha metade de nossa renda média, hoje tem hoje o dobro.
“A educação de base é a principal barreira a
impedir nosso avanço civilizatório”
A barreira decorre de
nossa poupança insuficiente, do pequeno investimento, da instabilidade jurídica
e do isolamento comercial. A principal causa, contudo, é a baixa produtividade
por falta de educação de base capaz de preparar a população para a atividade
econômica moderna. A concentração de renda, que nos faz parecer um país ainda
escravocrata e com apartação, só será rompida se antes houver distribuição de
conhecimento. A violência urbana, que nos transformou em exemplo mundial de
insegurança, com condomínios cercados e ruas tomadas pelo medo, é causada
especialmente pela falta de oportunidade, ao negar-se educação para os jovens,
que sem estudo e trabalho são tentados a sobreviver no crime. O racismo não
será superado apenas com leis para raros alunos entrarem no ensino superior,
mas por colocar todos, pobres e ricos, brancos e negros estudando juntos no
mesmo sistema escolar.
A próxima campanha presidencial seria um
momento para os eleitores brasileiros tratarem a educação de base como questão
nacional. Mas, pode-se prever que dificilmente alguma candidatura centrará o
debate na escolha da melhor estratégia para o Brasil ter suas escolas com a
máxima qualidade pelos padrões mundiais, independentemente da renda e do
endereço de cada família.
Apesar de sabermos como fazer e termos os
recursos para cumprir essa meta, nada indica que este será um tema central da
campanha. A centralidade dos debates deverá ser a violência, cumprindo o que
Darcy Ribeiro previu em 1985: ou “fazemos escola agora ou no futuro teremos de
fazer cadeias”. Em 2026, vamos debater prisões, não escolas.
Continuará faltando um estadista
“educacionista” para oferecer as bases da Missão Educação que realize a tarefa
histórica de superarmos a principal barreira a impedir nosso avanço
civilizatório.
*Publicado em VEJA de 29 de março de
2024, edição nº
2886
Não é verdade que saibamos como fazer, nem é verdade que tenhamos os recursos para cumprir a meta.
ResponderExcluirTambém é falso o subtítulo ("Precisamos debater escolas e não prisões"), porque precisamos claramente discutir AMBAS, mas ele não foi colocado no texto, deixando dúvida se é ideia adicional do autor ou se foi acrescentado por outra pessoa (editor, etc.), deturpando o texto do autor.