Folha de S. Paulo
Uma boa dose de exame de consciência ajudaria
Lula a inverter o cenário adverso
É sempre bom que governos se preocupem
com os preços dos alimentos. Ainda que essa preocupação seja
despertada pela queda nos
índices de popularidade do presidente da República nas
pesquisas, como agora quando Luiz Inácio
da Silva corre atrás de conter a carestia geral para reduzir o
dano pessoal.
Baixou uma ordem para que se preparem medidas simpáticas ao bolso da população. Isso a fim de tentar inverter o cenário de queda na avaliação positiva do governo registrado por quatro consultas de opinião na semana passada.
Tal empenho pode melhorar as coisas, mas não
resolve o problema porque os índices ruins não se devem apenas à questão
econômica. Há mais a considerar.
Na perspectiva do Planalto, a culpa toda é
da inflação de
alimentos aliada à ineficiência de comunicação das boas ações governamentais. É
o tema do momento e tem lá sua razão de ser. Afinal, nos primeiros governos
de Lula,
as pesquisas qualitativas captavam na seguinte resposta um dos, senão o
principal, motivos do sucesso de público: "As comidas estão baratas".
A economia só revela parte da história.
Há duas décadas o tempo era risonho e franco.
Ambiente internacional favorável, e internamente uma oposição de punhos de
renda. Lidar com a meiguice do PSDB —o
vilão que lhe deixou uma herança bendita— era muito mais fácil que encarar a
ferocidade da direita e seus extremos.
O Lula sem filtro sempre houve, mas mudou o
grau de tolerância com o personagem que, para piorar, acrescentou ressentimento
e adicionou doses cavalares de onipotência ao seu desempenho.
Não se espera de governante algum a expiação
pública. Mas nas conversas palacianas privadas, e principalmente nas tratativas
do presidente com seu travesseiro, conviria levar em conta a culpa que o Lula 3
cheio de si tem nesse cartório.
Do contrário, ficará prisioneiro das garras
do autoengano e não conseguirá mudar o cenário adverso.
Dora dorotiando.
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