Folha de S. Paulo
Quando militares revelam urdiduras do golpe,
cai a versão de perseguição política
O avanço das investigações, o que vai sendo
revelado pouco a pouco sobre as preparações golpistas do ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL), nos mostra muita
coisa.
Também já torna possível que pessoas presentes na
avenida Paulista em 25 de fevereiro para corroborar a tese da
injustiça considerem a hipótese de terem sido enganadas.
Não digo os fanáticos nem os adeptos da ruptura institucional, mas aqueles que por alguma razão acreditavam que Bolsonaro fosse vítima de narrativa oposicionista. Os depoimentos dos ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica à Polícia Federal não permitem que se fale em perseguição política.
O general Freire Gomes e
o brigadeiro Baptista
Júnior foram escolhidos pelo então presidente por serem
afinados com ele. Substituiu militares dados como simpatizantes da esquerda, os
chamados "melancias", no intuito de aliar procedimentos.
Portanto, não sendo políticos de profissão, a
motivação deles para dizer o que disseram à PF guardou relação apenas com os
compromissos de elogio à verdade e à fidelidade aos preceitos inerentes às
prerrogativas das fardas estreladas.
Dos relatos se depreende a evidência de que
houve mesmo uma tentativa de cooptar o estamento militar para uma ação golpista
tanto antes quanto depois das eleições de 2022.
Ficamos sabendo que, no final daquele ano,
Bolsonaro não estava doente nem deprimido em função da derrota, como se dizia
no entorno dele. Estava mesmo é conspirando para tentar achar um jeito de
anular o resultado das eleições e continuar no poder.
Não conseguiu porque não teve apoio. E aqui
conta a atitude legalista de militares, mas conta também a falta de anuência
do Congresso,
a firmeza do Supremo
Tribunal Federal, o repúdio internacional e o gosto da maioria da
sociedade pelo Estado de Direito.
A democracia resistiu, a verdade vem sendo
posta e, dando tudo certo, não absolverá seus detratores.
Exatamente.
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