O Estado de S. Paulo
Assim como a Vale não é dona do Brasil, Lula não é dono da Vale nem da Petrobras
A Vale do Rio Doce não é dona do Brasil, mas
o presidente Lula também não é dono da Vale. Aliás, nem da Petrobras. E é por
falar demais, e agir como se fosse dono de tudo e da verdade, que o presidente
cria polêmicas desgastantes, tumultuando a política externa brasileira e
atraindo desconfiança do mercado e dos investidores. Com uma agravante: o novo
ataque à Vale foi dias depois da demonstração de força de Jair Bolsonaro na
Avenida Paulista.
É como se Lula não engolisse o fato de que a Vale foi privatizada e, como privatizada, vai muito bem, obrigada. Tudo piora quando ele manobra para impor na presidência da companhia o ex-ministro da Economia de Dilma Rousseff, das pedaladas fiscais e de dois anos de recessão. Houve resistência a Guido Mantega até para a equipe de transição, imagine para a presidência da Vale? A ideia flopou.
Lula também cometeu erros factuais contra uma
das principais companhias brasileiras no mundo. Fiquemos em dois. Um, quando
acusou a Vale de não explicar por que desistiu da mina Moatize, em Moçambique,
“que foi um esforço para a gente conseguir”. Outro, quando disse que a
companhia “ultimamente, está vendendo mais ativos do que produzindo minério de
ferro, perdendo o jogo para empresas australianas”.
Bem, a mina de Moatize é de… carvão. A Vale
deixou um legado considerado importante em Moçambique, mas tem compromisso com
o Acordo de Paris, a priorização da mineração de baixo carbono e até a ambição
de se tornar líder mundial nesse segmento. Para completar, a operação era
deficitária. As explicações parecem convincentes.
E a Vale vem elevando a produção e saiu de
308 milhões de toneladas de minério de ferro em 2022 para 321 milhões em 2023,
mas... sua estratégia não é aumento de volume e, sim, a diferenciação de
mercado. Investe em descarbonização e é líder em produtos “premium”.
Vira e mexe, a Petrobras, estrela do
“petrolão”, também leva canelada de Lula, sofre ingerências políticas e adota
medidas tidas no mercado como populistas, repetindo os governos anteriores de
Lula e Dilma e de Bolsonaro – que trocou um presidente da companhia atrás do
outro, inclusive um general de estrelas, porque se recusavam a fazer o que ele
exigia, sem entender patavinas da questão.
Assim, Lula atrai chuvas e trovoadas na
política externa e nos setores financeiro, produtivo e de investimentos, e
sacode a Bolsa, com as ações da Vale caindo após suas críticas e as da
Petrobras, diante da redução de compensação a acionistas. Parece teimosia,
visão atrasada ou uma assessoria mais ideológica do que seria conveniente aos
interesses do Brasil. Ou, quem sabe, tudo isso junto.
Tudo junto e misturado.
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