sexta-feira, 1 de março de 2024

Eliane Cantanhêde - Direito de propriedade

O Estado de S. Paulo

Assim como a Vale não é dona do Brasil, Lula não é dono da Vale nem da Petrobras

A Vale do Rio Doce não é dona do Brasil, mas o presidente Lula também não é dono da Vale. Aliás, nem da Petrobras. E é por falar demais, e agir como se fosse dono de tudo e da verdade, que o presidente cria polêmicas desgastantes, tumultuando a política externa brasileira e atraindo desconfiança do mercado e dos investidores. Com uma agravante: o novo ataque à Vale foi dias depois da demonstração de força de Jair Bolsonaro na Avenida Paulista.

É como se Lula não engolisse o fato de que a Vale foi privatizada e, como privatizada, vai muito bem, obrigada. Tudo piora quando ele manobra para impor na presidência da companhia o ex-ministro da Economia de Dilma Rousseff, das pedaladas fiscais e de dois anos de recessão. Houve resistência a Guido Mantega até para a equipe de transição, imagine para a presidência da Vale? A ideia flopou.

Lula também cometeu erros factuais contra uma das principais companhias brasileiras no mundo. Fiquemos em dois. Um, quando acusou a Vale de não explicar por que desistiu da mina Moatize, em Moçambique, “que foi um esforço para a gente conseguir”. Outro, quando disse que a companhia “ultimamente, está vendendo mais ativos do que produzindo minério de ferro, perdendo o jogo para empresas australianas”.

Bem, a mina de Moatize é de… carvão. A Vale deixou um legado considerado importante em Moçambique, mas tem compromisso com o Acordo de Paris, a priorização da mineração de baixo carbono e até a ambição de se tornar líder mundial nesse segmento. Para completar, a operação era deficitária. As explicações parecem convincentes.

E a Vale vem elevando a produção e saiu de 308 milhões de toneladas de minério de ferro em 2022 para 321 milhões em 2023, mas... sua estratégia não é aumento de volume e, sim, a diferenciação de mercado. Investe em descarbonização e é líder em produtos “premium”.

Vira e mexe, a Petrobras, estrela do “petrolão”, também leva canelada de Lula, sofre ingerências políticas e adota medidas tidas no mercado como populistas, repetindo os governos anteriores de Lula e Dilma e de Bolsonaro – que trocou um presidente da companhia atrás do outro, inclusive um general de estrelas, porque se recusavam a fazer o que ele exigia, sem entender patavinas da questão.

Assim, Lula atrai chuvas e trovoadas na política externa e nos setores financeiro, produtivo e de investimentos, e sacode a Bolsa, com as ações da Vale caindo após suas críticas e as da Petrobras, diante da redução de compensação a acionistas. Parece teimosia, visão atrasada ou uma assessoria mais ideológica do que seria conveniente aos interesses do Brasil. Ou, quem sabe, tudo isso junto.

 

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