O Estado de S. Paulo
Novo temor: o almirante Almir Garnier desmentir e incriminar Freire Gomes e Baptista Jr.
Há um alívio nas Forças Armadas com a separação entre o joio golpista e o trigo legalista, depois que o general Freire Gomes e o brigadeiro Baptista Jr., ex-comandantes do Exército e da FAB, confirmaram a tentativa de golpe e que o então presidente Jair Bolsonaro a liderava pessoalmente. A preocupação, agora, é com um novo depoimento do almirante Almir Garnier, o único dos três comandantes que apoiou o golpe e colocou “as tropas da Marinha” à disposição de Bolsonaro para a aventura.
Na primeira reunião ministerial do ano,
ontem, o presidente Lula disse que o Brasil correu o “sério risco” de um golpe
e chamou o antecessor de “covardão”. Já o ministro da Defesa, José Múcio,
entrou mudo e saiu calado da reunião, mas depois não escondeu que ele próprio
está aliviado com os depoimentos do general e do brigadeiro à PF: “Agora a
suspeição tem nome, saiu do CNPJ (Forças Armadas) para os CPFs (os militares
golpistas)”. Traduzindo: não se generaliza mais, não se fala mais em “golpe
militar”, nem que “os militares” são golpistas, mas, sim, que havia militares
envolvidos e os comandantes do Exército e da FAB agiram para evitar o golpe.
A torcida na Defesa e nos quartéis-generais é
para que a Polícia Federal não aceite a oferta de um novo depoimento de
Garnier, que é investigado, enquanto Freire Gomes e Baptista Jr. são apenas
testemunhas, e decidiu ficar calado da primeira vez. O temor é o de que,
ressentido, com raiva, Garnier tente desmentir e incriminar o general e o
brigadeiro, que se sentiram liberados a contar tudo depois de o general Braga
Netto “quebrar o espírito de corpo militar” e deram versões semelhantes.
E, às vésperas do 31 de março, o problema de
Múcio e dos atuais comandantes não está “do lado de cá” (quartéis), mas “de lá”
(civis, petistas e até o ministro dos Direitos Humanos, Sílvio Almeida,
contrários à posição de Lula, ponderada e adequada, de desautorizar comemoração
ou condenação). Há “previsão zero” de manifestações de militares da ativa
pró-64, só o de sempre, nos clubes da reserva, ou “do pijama”. E os civis
bolsonaristas? E o “lado de lá”, da esquerda, doido para condenar 64? A ver.
É hora de avançar a PEC proibindo que
militares que disputem mandatos políticos voltem à caserna caso derrotados. O
líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT), ex-ministro da Defesa, terá
reuniões hoje para discutir ajustes no texto original e um cronograma de
votação. O que não dá é para atravessar a rua, de lá para cá. Ou bem o camarada
é militar ou bem é político. Até para que não volte e contamine os quartéis com
a política, especialmente depois da real tentativa de golpe.
Verdade.
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