O Estado de S. Paulo
Ele mostraria aos EUA e ao mundo que ainda
tem energia, clareza moral e sabedoria para liderar
Não é possível destruir o Hamas porque ele é uma ideia; e para derrotar uma ideia é preciso outra melhor
Quando o Hamas lançou seu terrível ataque
terrorista contra Israel, o presidente Joe Biden tomou uma decisão com base em
convicção e cálculo. Ele anunciou sua total solidariedade ao país. Biden deve
ter calculado que a única maneira de ter alguma influência sobre Israel seria
abraçá-lo de perto, mostrar empatia real, enviar-lhe as armas de que precisava
e ganhar sua confiança para moldar uma resposta. Foi uma estratégia bem
pensada, mas fracassou quase completamente.
Desde o início, o governo americano pediu aos israelenses que considerassem a proporcionalidade em sua resposta ao Hamas. Israel ouviu e prosseguiu com uma das mais extensas campanhas de bombardeio deste século contra uma população de cerca de 2,2 milhões que, segundo as próprias estimativas israelenses, continha cerca de 30 mil terroristas do Hamas. Segundo uma estimativa de janeiro, mais da metade dos edifícios em Gaza foram danificados ou destruídos.
O governo dos EUA aconselhou Israel a não
realizar uma grande invasão terrestre em Gaza, a adotar uma abordagem mais
restrita, com o objetivo de eliminar os terroristas e a infraestrutura do
Hamas. O governo israelense realizou várias e longas reuniões com autoridades
americanas e, em seguida, avançou com a invasão terrestre.
Após o término das operações iniciais, as
autoridades americanas disseram às israelenses: o que foi feito no norte de
Gaza não poderia ser repetido no sul. No entanto, depois de dizer às pessoas
para se mudarem para o sul para ficarem fora de perigo, Israel passou a
bombardeá-las de uma forma que o próprio Biden admitiu ser “indiscriminada”.
Os EUA têm pressionado Israel a fazer mais
esforços para proteger civis inocentes, mas com pouco resultado. Agora, o país
tem alertado contra a invasão de Rafah, cidade na fronteira com o Egito, onde
mais de 1 milhão de palestinos se amontoam. O primeiro-ministro israelense,
Binyamin Netanyahu, prometeu invadir Rafah, independentemente de outro acordo
de reféns ser feito ou não.
Washington advertiu que, após a guerra, não
deve haver nenhuma apreensão israelense de terras em Gaza e nenhuma nova
ocupação de território. Os planos de Netanyahu são de fazer as duas coisas.
O resultado é que a política americana sobre
a guerra em Gaza agora parece infeliz, ineficaz e imoral. A imagem de
autoridades americanas se remoendo por causa das mortes de civis enquanto
fornecem cada vez mais armas é grotesca. A imagem de um presidente dos EUA
murmurando palavras como “indiscriminado” e “exagerado” para descrever os
bombardeios de Israel sugere fraqueza e passividade.
TRAUMA. Parte do problema é que, ao confiar
no governo israelense, Biden está confiando em Netanyahu, um político
excepcionalmente inteligente que sabe como lidar com presidentes americanos com
habilidade e tem feito isso há décadas. Desta vez, Biden foi enganado,
manobrado e superado por Bibi.
Mas o problema vai além de Bibi. Israel passa
por um trauma. O ataque de 7 de outubro abalou o país até o âmago. A sensação
de segurança que Israel deveria conferir ao seu povo foi abalada. Como
resultado, muitos israelenses estão permitindo políticas das quais se
arrependerão profundamente. Biden, como um verdadeiro amigo de Israel, tem
credibilidade para dizer a verdade de forma pública e direta – talvez em um
discurso no Parlamento israelense, como sugeriu o especialista em política
externa Richard Haass.
Desde o início da guerra, 30 mil morreram em
Gaza. Uma em cada quatro pessoas está à beira da fome e quase todas dependem de
ajuda alimentar. Um cirurgião visitante de Oxford, Nick Maynard, descreveu a
condição em um hospital em Gaza, um dos poucos que estão funcionando
parcialmente: “Vimos muitas crianças chegando com os ferimentos mais terríveis,
muitas das quais você sabia que iriam morrer.”
Israel diz que seu objetivo é destruir o
Hamas. Você até pode matar seus militantes e destruir sua infraestrutura. Mas
não é possível destruir o Hamas, porque ele é uma ideia: que a resistência
armada é a única maneira de os palestinos obterem seus direitos. Para derrotar
uma ideia, é preciso outra melhor – uma maneira de mostrar que a ação não
violenta e a cooperação levariam a uma vida melhor para os palestinos e a uma
segurança duradoura para ambos os povos.
Biden deveria ir a Israel e mostrar ao país seu amor por ele falando essas duras verdades. Ele também mostraria aos EUA e ao mundo que ainda tem energia, clareza moral e sabedoria para liderar.
*É colunista do ‘Washington Post’.
Excelente! A política estadunidense na Faixa de Gaza tem sido realmente IMORAL, como bem afirma o colunista. Os CRIMES de GUERRA cometidos pelos militares israelenses e por Netanyahu têm sido ignorados até agora.
ResponderExcluirDaniel,como sempre,mente,desinforma.O articulista não disse que é, mas que parece.
ResponderExcluirO artigo é oportunista, embora Biden tenha sido fartamente enganado. Aliá,Biden, com a italiana,cometeu tremendo ato falho e demonstrou o que realmente lhe interessa: Ucrania. Que seja! Deixe Bibi se roçar nas ostras.
MAM