Valor Econômico
Com projeto para criar programa de escolas cívico-militares, Tarcísio aposta na resiliência dos valores do bolsonarismo
A decisão do governador Tarcísio de
Freitas de mandar o projeto de
lei que cria o programa de escolas cívico-militares é uma
demonstração de como o bolsonarismo investe para contornar, pela política, o
cerco jurídico-policial.
Há generais que arriscam a se sentar no banco
dos réus pelo envolvimento no golpismo que vandalizou a Praça dos Três Poderes
no 8 de janeiro a despeito do batalhão estacionado no subsolo do Palácio do
Planalto.
Num momento em que a cúpula legalista das Forças Armadas se esforça para se dissociar do bolsonarismo, eis que o governador paulista pauta um projeto para valorizar a disciplina militar como valor pedagógico.
Desafia a mesma disciplina que não foi capaz
de manter a segurança dos Poderes da República a manter o cabelo dos meninos
rente e o das meninas, em coque, e que todos cantem o hino nacional no
hasteamento da bandeira.
Antes mesmo de se filiar ao partido do
ex-presidente, Tarcísio de
Freitas já se engajou na estratégia em curso no PL. Ocupar o debate
público seja pelo manejo de comissões importantes na Câmara, seja pelas
políticas públicas de Estados importantes como São Paulo, para manter a
polarização na sociedade e desviá-la das pautas concretas do país.
Ao descontinuar o programa das escolas
cívico-militares, o ministro da Educação, Camilo Santana, foi muito claro.
O governo federal enviava recursos para as Forças Armadas gerirem escolas
públicas mas, por outro lado, deixava de fazer repasses do Fundo Nacional do
Desenvolvimento da Educação para despesas da rede escolar de Estados e
municípios. A ponto de os governadores terem que ir ao Supremo para receber o
dinheiro.
Ou seja, enquanto vigorou na federação, foi
um programa elitista, que não havia sido aprovado pelo Congresso nem estava
previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação nem no Plano Nacional de
Educação. Funcionava por decreto e foi revogado.
Ao levá-lo adiante, Tarcísio aposta na
resiliência dos valores do bolsonarismo. Fará do Palácio dos Bandeirantes a
caixa de ressonância de pautas que prometem fazer muito barulho nas redes
sociais, vide a presidência da Comissão de Educação pelo deputado Nikolas
Ferreira (PL-MG), para ofuscar as pautas da vida real.
O governo terá, por exemplo, que investir
numa estratégia de comunicação eficiente para divulgar o programa “Pé de meia”
com o qual pretende depositar R$ 200 por mês na conta dos alunos do ensino
médio com alta frequência escolar de modo a que, ao final do curso, esses
jovens, com uma poupança de R$ 9,2 mil, virem pequenos empreendedores.
O que o governador ainda terá que mostrar é
sua capacidade de colocar essas escolas em pé. Renato Feder, o secretário de
Educação que conduzirá este programa, é o mesmo que quis tirar São Paulo do
plano nacional do livro didático do MEC para inundar o Estado de material
didático digital como se acesso à internet e a computadores brotasse de um pé
de jabuticaba. Foi obrigado a voltar atrás.
Tem muito jovem que nem ganhando 200 reais por mês vai querer estudar.
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