Folha de S. Paulo
Memória é vacina antigolpe para reforçar a
imunidade democrática
O golpe militar-empresarial de 1964 no Brasil
completou 60 anos em 31 de março de 2024. Por ser um dos eventos mais
significativos da história brasileira, ele precisa ser lembrado, debatido e
esmiuçado, sob pena de o vermos repetido.
A instauração do regime militar no Brasil foi
o ápice de uma série de tensões políticas, econômicas e sociais que se
acumulavam no país. O governo de João Goulart (Jango)
foi um período particularmente turbulento, marcado por intensas disputas
ideológicas e uma crise econômica que só fez agravar a instabilidade.
Em contexto de crescente polarização política, Jango promovia suas reformas de base, que visavam ajustar as instituições à modernização econômica deflagrada na década anterior, com Vargas e Kubitschek. As reformas agrária, educacional, bancária, urbana e tributária almejavam reduzir as desigualdades socioeconômicas e, portanto, desafiavam as estruturas de poder.
O conflito social se agravou com a abrupta
desaceleração da economia em 1963 (0,6% frente a 6,6%, em 1962), combinada com
o descontrole das contas públicas e a aceleração da inflação a 80% no ano. A
instabilidade inibia o investimento, enquanto a inflação corroía o poder de
compra da população e gerava insatisfação de alguns grupos com o governo, que
ainda tinha 70% de
aprovação.
A combinação desses fatores mobilizou a
oposição contra Jango e criou um terreno fértil para a erupção do golpismo, que
já assediava nossa jovem democracia desde 1954. O apoio internacional foi
assegurado pela lei que limitava remessa de lucros das empresas estrangeiras ao
exterior. A tempestade perfeita estava formada.
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