O Globo
Depois de 114 anos, a Marinha continua a
açoitar a memória de João Cândido. O comandante Marcos Sampaio Olsen pediu aos
deputados que rejeitem a inclusão do navegante negro no Livro de Heróis da
Pátria. Alegou que ele teria deixado um “reprovável exemplo de conduta para o
povo brasileiro”.
No início da República, a Marinha ainda
submetia os praças a castigos físicos. A Lei Áurea, que abolira a escravidão em
terra firme, não havia chegado aos navios de guerra.
Em 1910, o marinheiro Marcelino Rodrigues
Menezes foi amarrado ao mastro de um encouraçado e levou 250 chicotadas. A
surra motivou a Revolta da Chibata, que obrigaria a Força Naval a suspender a
rotina de maus-tratos.
Em carta enviada à Câmara, Olsen classificou o motim como “fato opróbrio” (vergonhoso) e “deplorável página da história nacional”. Descreveu seus participantes como “abjetos marinheiros”, que teriam ferido a hierarquia e a disciplina para “chantagear a nação”.
O almirante reconheceu que os castigos
físicos eram “equivocados”, mas tratou João Cândido, líder do levante, como um
“insurgente” a serviço da “subversão”. Com essa retórica embolorada, conclamou
os parlamentares a negarem a homenagem oficial.
O projeto já foi aprovado no Senado. Agora é
debatido na Comissão de Cultura da Câmara. Em audiência na quarta-feira, um
representante da Marinha leu a correspondência de Olsen e acrescentou que a
revolta sempre será considerada um episódio “inaceitável”.
O historiador Álvaro Pereira do Nascimento,
da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, classificou a renitência como
um “erro grave”. “A Marinha tem que assumir seus erros. Não haverá como apagar
isso da História”, advertiu.
Preso, torturado e expulso da corporação,
João Cândido morreu na pobreza, em 1969. Décadas depois, é reverenciado como
símbolo da luta contra o racismo. A carta de Olsen desonra a Marinha, não a
memória do marinheiro.
Conhecido como navegante negro,tinha dignidade de um mestre sala...
ResponderExcluirBarbaridade! Cabeça de militar é mesmo cheia de titica. O almirante não se envergonha de suas "ideias"?
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