Folha de S. Paulo
Depois de barbeiragem do Supremo na revisão
de regras, casuísmo está quase completo
Quando o STF restringiu
o foro especial,
os políticos chiaram. Na época, o Congresso ameaçou estender a gentileza e
também mandar para a primeira instância os processos contra ministros do
tribunal. Na discussão, o então senador Romero Jucá resumiu
a retaliação com uma
pérola: "É todo mundo na suruba, não uma suruba
selecionada".
Se os políticos encaram a obrigação de prestar contas à Justiça como uma farra, essa é uma cortesia das delícias do poder. Ainda que estejam expostas a excessos, essas autoridades trafegam com desenvoltura nos corredores dos tribunais. Mas o bagunçado vaivém do foro especial tornou a atividade mais custosa.
O STF achou que estava se livrando de um
abacaxi, em 2018, quando limitou as
circunstâncias em que julgaria processos contra políticos. O plano
era desafogar os gabinetes dos ministros e jogar para a plateia a ideia de que
as ações passariam a correr mais rápido nas instâncias inferiores, desfazendo o
que era visto como privilégio e impunidade.
A manobra se mostrou uma barbeiragem. Sem
previsão na lei, o tribunal decidiu que só julgaria crimes cometidos durante o
mandato e relacionados ao exercício do cargo. Deixou tantas lacunas que, em
Brasília, era possível
juntar numa mesa três políticos investigados em casos ligados à Lava Jato e
encontrar cada um numa situação diferente.
A definição do tribunal em que uma autoridade
é julgada passou a depender, muitas vezes, da habilidade de um advogado ou da
disposição de um juiz. O casuísmo está próximo de ficar completo com a decisão do
STF de rever a regra mais uma vez, retomando a prerrogativa de
julgar políticos após o fim dos mandatos ou por crimes sem relação com o cargo.
O que se tem é mais uma briga por poder. O
STF não quer perder o papel de vigilante do mundo político e largar processos
contra figuras como Bolsonaro. O Congresso prepara uma reação e propõe levar
processos de autoridades para o STJ, esvaziando o Supremo. Todos querem um foro
à escolha do freguês.
Pois é.
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