Efeito
negativo de declarações polêmicas costuma ser superestimado, mas presidente
prefere medir palavras em café com jornalistas
O
megafone de um presidente é uma das ferramentas mais poderosas da política. Um
governante habilidoso talvez consiga incluir na ordem do dia qualquer assunto
que considere importante. Às vezes, ele aproveita para distrair o eleitor ou
lançar fumaça sobre um tema inconveniente. Quando fala o que não deve, o dano
também pode ser grande.
Lula ensaiou uma calibragem na conversa desta terça (23) com jornalistas. Depois de reclamar de reportagens que reproduzem suas declarações, o presidente tentou fugir de bolas divididas e evitou dar combustível para disputas políticas. "É preciso que a gente pense o que vai falar, porque tudo o que você falar pode virar uma manchete", refletiu.
O
contraste ficou claro quando Lula se referiu a dois desafetos. O primeiro foi o
chefe do Banco Central. Roberto
Campos Neto perdeu a alcunha de "esse cidadão", e a
política de juros recebeu uma crítica suave para os padrões do petista. O
presidente recorreu apenas a uma ironia leve ao insinuar que conta os
meses para a troca de comando do BC.
O
petista também recolheu as armas quando surgiu o assunto Lava Jato. Lula, que
no ano passado confessou seu desejo de uma vendeta contra Sergio Moro, agora se
recusou a comentar o processo de cassação do ex-juiz ou as ações contra
magistrados no Conselho Nacional de Justiça, "para ninguém dizer que eu
estou querendo fazer interferência".
O
cálculo de Lula envolveu ainda panos quentes numa disputa com um Congresso
permanentemente indócil. O petista fingiu que só tinha motivos para agradecer
aos parlamentares e fez pouco-caso da derrubada
iminente de seus vetos. Para completar o jogo, não quis
pronunciar o nome de Jair Bolsonaro ou agitar o fantasma do
ex-presidente.
O
efeito negativo de declarações polêmicas de Lula costuma ser superestimado.
Ainda assim, auxiliares do presidente acreditam que a repercussão de alguns
desses episódios tiveram peso sobre sua queda de popularidade em determinados
nichos do eleitorado.
Pode ser.
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