Folha de S. Paulo
Métodos desqualificam dono do X e contaminam
até o mérito de mostrar que lista de alvos do STF é uma caixa-preta
O chilique de Elon Musk é
o pior ponto de partida para qualquer discussão sobre o poder do STF no
controle das redes. A estatura moral, o compadrio político e os interesses
empresariais fazem do bilionário um ator de baixa credibilidade nesse debate. O
que desqualifica de verdade o dono do X, no entanto, são seus métodos e
argumentos.
Assim que entrou na briga, Musk sacou uma arma habitual de sujeitos com delírios de grandeza e ameaçou descumprir decisões judiciais. Depois, o X apelou para a malandragem ao alegar que seu escritório no Brasil não tem poder de remoção de conteúdo, o que criaria embaraços a ordens de bloqueio na plataforma.
Foi um desafio endereçado a Alexandre de
Moraes e pensado para fazer barulho. Se a ideia era denunciar
medidas consideradas abusivas, pode-se dizer que Musk conseguiu o que queria.
Mas o comportamento do empresário também expôs mais uma vez a complacência de
sua plataforma com delinquentes abrigados e promovidos pelo X.
Autoproclamado "absolutista da liberdade
de expressão", Musk permite e tira proveito das distorções desse princípio
caro às sociedades democráticas. O X se beneficiou de ações orquestradas
capazes de criar riscos reais, como campanhas contra a vacinação e mobilizações
golpistas —que deveriam merecer um controle mais rigoroso do que garantias
individuais de manifestação.
Musk é mais ou menos absolutista dependendo
de quem está do outro lado. Em fevereiro, o governo da Índia determinou a
suspensão de contas no X. A rede publicou quatro parágrafos com um polido
questionamento à decisão. O bilionário, que já disse ser fã do
primeiro-ministro populista Narendra Modi, não chamou
ninguém de ditador.
O histórico da plataforma e as atitudes de
seu dono contaminaram o que poderia ser um justo protesto contra a extensão e a
duração dos bloqueios determinados por Moraes. Se Musk tem um mérito na
história é mostrar que a lista desses alvos é, na prática, uma caixa-preta.
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