Folha de S. Paulo
Moraes prestou grande serviço à democracia,
mas deveria ser mais transparente e menos justiceiro
Os ataques de Elon Musk ao
Supremo Tribunal Federal e ao ministro Alexandre de
Moraes parecem ter como principal objetivo angariar apoio
político da extrema direita e sua periferia para garantir um ambiente favorável
a seus negócios. Particularmente, o sul-africano americano procura evitar que o
Brasil, a exemplo de outros países, caminhe para regulamentar as plataformas
digitais.
Musk é uma verdadeira Tchutchuca da China, onde o X é vetado pelas autoridades. As instalações da Tesla naquele país salvaram e salvam boa parte de sua lavoura. Suas relações com a cúpula do governo, ou seja, do Partido Comunista Chinês, são descritas como quase carnais. Não dá um pio sobre liberdade de expressão e outras prerrogativas democráticas.
No caso de um regramento democrático, claro
que há regulamentações e regulamentações. A que seria justificável deveria
considerar a premissa de que crimes reconhecidos como tais fora do ambiente
digital também sejam passíveis de punição em seu âmbito.
O blá-blá-blá do magnata da Tesla, Space X e
da plataforma X sobre liberdade de expressão é de um oportunismo constrangedor
—e apenas expõe a falta de caráter da personagem.
O herói dos ultraconservadores parvos,
todavia, não é bobo. Aproveitou-se de uma situação específica do Brasil para
desafiar a Justiça e fazer campanha sobre o que seria uma tendência ditatorial
do governo Lula em
orquestração com o STF.
É uma movimentação que atravessa fronteiras e
congrega um punhado de Olavos de Carvalhos internacionais. A farsa transcorre
justo no momento em que se desmascara a tentativa frustrada de golpe de Jair
Bolsonaro e seus asseclas. Como dizia Paulo Francis, nasce um
otário a cada minuto.
Nada disso, contudo, obscurece a evidência de
que o STF e o ministro Moraes precisam afinar seus instrumentos, depois de uma
necessária elevação de tom para impor uma reação institucional ao bolsonarismo
golpista —que cooptou a Procuradoria Geral da República, fazendo de Augusto
Aras um pet do Planalto.
Como já se apontou, os inquéritos conduzidos
por Moraes, com amplo apoio do tribunal, carecem de transparência e clamam por
modulação. O magistrado está cultivando uma imagem de justiceiro que não faz
bem à própria democracia.
Não tenho nenhuma preocupação com o que os
EUA podem achar de uma eventual suspensão do X no Brasil, o que seria uma
estultice, obviamente. Depois de Trump, os americanos têm muito do que se
envergonhar e se indignar em casa mesmo.
Musk não comete nenhum crime ao criticar ou
atacar Moraes e o STF, muito menos ofende a soberania nacional, como certa
jequice nacionalista de esquerda vem insistindo. Faz sim parte da liberdade de
expressão criticar ou se indignar com presidentes, tribunais ou juízes sejam de
que país for.
Outra coisa é a empresa do fanfarrão
desrespeitar determinações judiciais, transgressão que precisa ser enfrentada
dentro do alcance das leis. A reação de Moraes às agressões verbais foi um
tanto intempestiva e gerou uma situação mais complicada do que seria desejável.
No final das contas, tem muita espuma nesse coquetel, que só ajuda a acirrar os
ânimos e insuflar a claque da direita —o objetivo, afinal, de Musk e seu
cortejo de bajuladores.
PERFEITO!
ResponderExcluirMusk é tão democrata quanto Jair Bolsonaro...
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