Folha de S. Paulo
Após quase um
terço do mandato, governo não tem política para a estatal, petróleo e energia
Os
assuntos mais importantes da Petrobras são política de preços, pesquisa e plano de investimento —quanto vai
para petróleo, combustíveis fósseis ou energia renovável. A petroleira é a única
estatal, talvez a única empresa do país, que se possa chamar de
"estratégica", como a esquerda gosta de dizer até de barraca de
dogão.
Mais importante é a política nacional de petróleo e energia. Isto é, saber quanto mais petróleo se vai explorar e quais as alternativas econômicas que preservem a segurança do abastecimento de energia. Ou saber o que se vai fazer de impostos, dividendos e outros dinheiros petrolíferos. Por ora, tais receitas mal ajudam a cobrir as despesas do governo muito deficitário. Como seria possível, então, que a exploração de petróleo ajudasse a bancar pesquisa e desenvolvimento de energias renováveis? O que se pode fazer a respeito?
Não
há política nacional de petróleo e energia, apenas disputas desorganizadas em
um governo que já vai completar um terço de mandato. Petrobras, Meio Ambiente, Minas e Energia, Casa Civil e
Fazenda, para citar os mais influentes, no caso, têm ideias diferentes ou mesmo
opostas a respeito. Não há decisão de rumo e projeto.
Não
há nem mesmo política para Petrobras, apenas desejos de Luiz Inácio Lula da Silva. No limite, tais vontades
vagas são incompatíveis com normas e com a solidez econômica da Petrobras. De
imediato, tais desejos estimulam a politicalha, esse salseiro vexaminoso que prejudica também
o crédito da petroleira e mesmo o do governo.
Nosso
maior interesse vai para o BBB 24 da Petrobras. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira,
espezinha o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates,
para quem soltou em público, nesta Folha, um "sabe com quem
está falando?" e um "ponha-se no seu luga r". O presidente da
Petrobras pede a Lula que decida quem manda no barraco. Lula "se
irrita", não gosta de ser "emparedado", vaza pelas mídias.
Prates ou seus amigos choramingam anonimamente: Prates está
"machucado". O drama cafona e irrelevante jorra. Informações
sigilosas vazam.
Silveira
é amiguinho do casal presidencial. Bajula o presidente, que quer
"obras" da Petrobras: navio, refinaria, gasoduto, fábrica de lampião,
sabe-se lá. Por vários motivos, pois, entre eles o desejo de mandar mais na
empresa, Silveira se sente à vontade de dinamitar Prates, que tentava conciliar
estatutos e interesses (e pressões internas) da empresa com os desejos de Lula
quanto a preços e investimentos.
A
vulgaridade do "reality" aumenta. Uma turma vaza veneno sobre Prates,
suas nomeações heterodoxas na empresa, várias de petistas e sindicalistas,
tendo, porém, deixado "bolsonaristas" em cargos relevantes. Outra
turma vaza que Silveira e amigos seus no conselho da empresa são
quase-bolsonaristas (nem bem isso são: agem de acordo com a oportunidade de
poder). Etc.
Entra Aloizio Mercadante na história, que talvez
substituísse Prates. No paredão, ele "desagrada" ao mercado; na
fofoca amiga, teria dito a Prates que não vai lhe passar uma rasteira e que
está "moderado" no BNDES.
O
país adora fofoca, novela, barraco e reality, das elites toscas ao restante do
povo. Disputa de poder e intriga são compreensíveis e mais interessantes do que
balanços, eficiência, transição energética e política de desenvolvimento. Causa
desânimo terminal que a burrice da conversa seja tão grande mesmo nisso que se
chama de elite nacional.
Dentro e fora do governo, nos ministérios, no BNDES, na Petrobras etc., há gente séria e capaz de pensar uma política. O governo, porém, é uma desordem jeca, amigo de ideias provincianas e erradas de desenvolvimento. Lula, coadjuvado por vassalos atrasados e ignaros, deixou essa baderna daninha acontecer.
A elite cultural do País é ótima.
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