O Globo
O banco central norte-americano apontou menor
confiança no cenário de corte da taxa básica de juros. De quebra, a eleição
presidencial em novembro poderá alimentar o conservadorismo do Fed, de modo a
afastar acusações de viés político em favor da candidatura de Joe Biden.
Isso significa não relaxar a política monetária até que surjam sinais claros de
convergência da inflação (em torno de 3,5%) para a meta (2%).
O Fed piscou e os mercados tremeram. A reação foi na direção esperada: valorização da moeda americana, elevação dos juros de mercado e queda das bolsas. Fatores internos diferenciam as repercussões em cada país. No Brasil, o impacto foi sensivelmente mais forte, e o suspeito usual é o elevado risco fiscal, agora com agravantes.
A queda da bolsa no Brasil (-3,9% entre 11 e
19 de abril, de acordo com o MSCI, que captura o desempenho de grandes e médias
empresas, em dólar)
não destoou do observado no resto do mundo (-4,1%). No entanto, a explicação
está na base mais baixa de comparação, já que a fraqueza da bolsa aqui não é de
agora.
Desde janeiro nota-se um descolamento, para
pior, em relação até a demais países emergentes. Considerando a queda dos juros
aqui e as surpresas positivas com o crescimento, o resultado desaponta. Pesa o
maior risco de intervenção governamental na Petrobras, Eletrobras e Vale.
Trocando em miúdos: o que não estava bom ficou pior.
No câmbio, há mais elementos para análise.
Discuti em dezembro neste espaço que a volatilidade da taxa de câmbio estava
menor em relação ao passado, já levando em conta o quadro externo, ou seja, a
própria volatilidade das moedas no mundo. Para além das surpresas positivas com
a balança comercial, a expectativa de força política do Ministro Fernando
Haddad dava o tom.
Essa relativa tranquilidade foi abalada. A
resposta do real à piora do quadro internacional foi mais intensa em relação ao
padrão recente. A título de comparação, em outubro do ano passado, em meio a
temores em relação à política econômica nos EUA, os juros de mercado de lá
subiram e o dólar se fortaleceu no mundo, até mais do que o observado agora. No
entanto, a correção da taxa de câmbio foi relativamente modesta (bateu R$ 5,17
ante R$5,28 na semana passada).
Retrocedendo a análise ainda mais, para
momentos benignos na agenda econômica em 2016, no governo Temer, foram
observados momentos de maior fortalecimento do dólar no mundo, mas não no
Brasil, onde o real se descolava, oscilando abaixo de R$3,5.
Já os juros de mercado (“yield curve”)
subiram mais no Brasil do que na média dos emergentes. Além disso, a resposta
aos juros de mercado mais elevados no EUA também surpreendeu na comparação com
o passado recente – o salto na inclinação da curva foi maior agora.
O comportamento dos preços de ativos é alerta
para o aumento das preocupações internas com a política econômica. Os sinais
são incipientes, mas não convém desprezá-los – esse foi um grande erro da
presidente Dilma.
Não sem razão piorou avaliação de risco vindo
do lado fiscal. Apesar de o anúncio das metas fiscais no ano passado não ter
sido crível, não melhorando as projeções fiscais dos economistas e gerando a
expectativa de ajustes adiante, como o ocorrido, a sequência de más notícias na
agenda fiscal enfraqueceu a reputação do time econômico.
Em entrevista recente ao Valor Econômico, o
secretário do Tesouro, Rogério Ceron, ao ser questionado sobre o governo ter
errado ao fixar as metas fiscais, respondeu: “Não. Cumpriu um papel super
importante nesse processo de ancoragem das expectativas e aprovação de
medidas”.
A resposta sugere que se conhecia a
dificuldade de cumprir a meta, mas se buscou ganhar a confiança dos operadores
do mercado financeiro. Seria uma estratégia míope que agora cobra seu preço. No
mercado financeiro vale a máxima de que “não se pode enganar a todos o tempo
todo”. As expectativas se ajustam aos fatos e os preços de ativos são
corrigidos rapidamente.
Ora, se no passado tentou-se vender otimismo,
será que agora não estariam fazendo o mesmo? Será mesmo que as novas metas são
para valer? Qual o plano de voo?
O esforço do governo para recuperar a
confiança dos agentes econômicos precisará ser maior agora. Caberá ao time
econômico apontar os problemas e as soluções, e ao presidente fazer suas
escolhas.
Verdade.
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