terça-feira, 7 de maio de 2024

Alvaro Costa e Silva - Madona, vaticínios e boatos

Folha de S. Paulo

Show de Madonna derrubou o vaticínio dos profetas de sofá

Falar mal do Rio é um esporte, já disse alguém. A prática envolve não apenas os odientos, os ressentidos, os invejosos e os críticos acerbos (estes exercendo seu sagrado direito) como os cariocas da gema e os que escolheram viver aqui.

As razões são óbvias e bastantes. É só olhar o governador Cláudio Castro, que no ano eleitoral de 2022 aumentou em 22% os gastos com pessoal e hoje pressiona a União e o STF para conseguir mais dinheiro. Nem a humildade de apresentar-se com o pires na mão ele tem; como um chantagista, ameaça não pagar salários. "Quem mandou a população votar nele?", ouço o leitor perguntar. Como se somente o Rio elegesse maus políticos. Como se isso não fosse uma vocação nacional. A lista de nulidades eleitas é extensa, a começar pelo hoje inelegível.

Meu amigo Luiz Antônio Simas resumiu a situação: "Em 56 anos de vida, nunca fiquei nem 30 dias direto longe do Rio de Janeiro. A cidade é meu amor e minha desgraça. Dito isso, fico impressionado com o diagnóstico de gente que, sem ter passado um mísero dia aqui, destila certezas sobre o Rio que sou incapaz de proferir".

Tal fenômeno se deu nos dias que antecederam o show de Madonna. As redes sociais, que tudo sabem, registraram o seguinte vaticínio: arrastões, pisoteamentos, facadas, tiros, bombas. Um caos nada pop. Como se o Rio não estivesse mais do que escolado com a Copa do Mundo e a Olimpíada, a queima de fogos no Ano-Novo e os desfiles do Bola Preta. Sem falar na presença do papa Francisco nas mesmas areias de Copacabana, em 2013, quando reuniu um milhão de fiéis.

Madonna levou mais gente: 1,6 milhão de fãs (o boato ou o babado era que não ficou nenhum gay em São Paulo). Pois o esquema de segurança funcionou, e as pessoas puderam circular à vontade, exibindo sem medo os celulares. O problema é que, em seu cotidiano, a cidade não tem uma estrutura de megashow. Mas deveria.

 

 

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