Folha de S. Paulo
Show de Madonna derrubou o vaticínio dos
profetas de sofá
Falar mal do Rio é um esporte, já disse
alguém. A prática envolve não apenas os odientos, os ressentidos, os invejosos
e os críticos acerbos (estes exercendo seu sagrado direito) como os cariocas da
gema e os que escolheram viver aqui.
As razões são óbvias e bastantes. É só olhar o governador Cláudio Castro, que no ano eleitoral de 2022 aumentou em 22% os gastos com pessoal e hoje pressiona a União e o STF para conseguir mais dinheiro. Nem a humildade de apresentar-se com o pires na mão ele tem; como um chantagista, ameaça não pagar salários. "Quem mandou a população votar nele?", ouço o leitor perguntar. Como se somente o Rio elegesse maus políticos. Como se isso não fosse uma vocação nacional. A lista de nulidades eleitas é extensa, a começar pelo hoje inelegível.
Meu amigo Luiz Antônio Simas resumiu a
situação: "Em 56 anos de vida, nunca fiquei nem 30 dias direto longe
do Rio de
Janeiro. A cidade é meu amor e minha desgraça. Dito isso, fico
impressionado com o diagnóstico de gente que, sem ter passado um mísero dia
aqui, destila certezas sobre o Rio que sou incapaz de proferir".
Tal fenômeno se deu nos dias que antecederam
o show de Madonna.
As redes sociais, que tudo sabem, registraram o seguinte vaticínio: arrastões,
pisoteamentos, facadas, tiros, bombas. Um caos nada pop. Como se o
Rio não estivesse mais do que escolado com a Copa do Mundo e a Olimpíada, a
queima de fogos no Ano-Novo e os desfiles do Bola Preta. Sem falar na presença
do papa Francisco nas mesmas areias de Copacabana, em 2013, quando reuniu um
milhão de fiéis.
Madonna levou mais gente: 1,6 milhão de fãs
(o boato ou o babado era que não ficou nenhum gay em São Paulo). Pois o esquema
de segurança funcionou, e as pessoas puderam circular à vontade, exibindo sem
medo os celulares. O problema é que, em seu cotidiano, a cidade não tem uma
estrutura de megashow. Mas deveria.
É verdade.
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