O Globo
Prefeito de SP tenta malabarismo para atrair
votos do ex-presidente sem herdar sua rejeição
Ser ou não ser bolsonarista? O dilema parece
assombrar o prefeito Ricardo Nunes, que concorre à reeleição em São Paulo. O
emedebista precisa dos votos de Jair Bolsonaro, mas não quer se contaminar com
a rejeição ao ex-presidente. Isso resulta num discurso escorregadio, como se
viu na entrevista de ontem ao GLOBO.
Nunes afirmou que não pretende nacionalizar a campanha paulistana. Ao mesmo tempo, disse que o apoio do ex-presidente é “muito importante” e que a realização de agendas em conjunto só depende da vontade dele. Como o capitão mal conhece a cidade, presume-se que ele não será escalado para debater temas municipais, como a poda de árvores ou o trânsito nas marginais.
Em outro trecho, o prefeito negou ter relação
próxima com o aliado. Em seguida, passou a listar eventos públicos e privados
em que os dois estiveram juntos nos últimos meses. “Assim, conheço o Bolsonaro,
já fui na casa dele, ele já foi na minha... Mas a gente se fala? Não”,
desconversou. Faltou esclarecer se os encontros transcorreram com a dupla de
boca fechada.
Apoiado pela extrema direita, o prefeito se
descreveu como um político “de centro”. O que não o impediu de repetir a
cantilena bolsonarista sobre os atos de 8 de janeiro, que podem levar o capitão
e alguns generais para a cadeia.
Segundo Nunes, o ataque golpista às sedes dos
Três Poderes não passou de um mero episódio de “depredação”. Ele chegou
defender a anistia aos envolvidos, mas acrescentou que “todos têm que ser
responsabilizados pelo vandalismo”. Como anistia e responsabilização são ideias
antagônicas, fica difícil entender o que o prefeito realmente pensa.
A ambiguidade não deve se sustentar por muito
tempo. Quando a campanha começar, Nunes será pressionado a se definir e
defender suas alianças. Ontem ele indicou que o plano é se apresentar como um
antídoto a Guilherme Boulos. Disse que sua missão é “vencer a extrema
esquerda”, estimulando a pecha de radicalismo contra o rival.
Na entrevista da véspera, Boulos descreveu
Nunes como “um prefeito incompetente, cheio de suspeitas de corrupção”. O tom
dos dois sugere que a disputa civilizada de 2020, quando Bruno Covas derrotou o
candidato do PSOL, não vai se repetir este ano.
Sem radicalismo,por favor.
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