Folha de S. Paulo
Sebastião Melo apontou o dedo, mas direcionou
holofotes para o próprio gabinete
O prefeito de Porto Alegre deve
ter achado que estava recebendo pouca atenção na tragédia gaúcha. Com novos alagamentos
na cidade, Sebastião
Melo (MDB) deu uma entrevista coletiva desastrosa. Disse que
a chuva desta
quinta-feira (23) foi intensa demais e se queixou de moradores que jogam lixo
nas ruas
Melo apontou o dedo para outro lado, mas direcionou os holofotes para o próprio gabinete. Todo município tem problemas com lixo acumulado. Em vez de culpar a população, ele poderia explicar por que sua administração não providenciou um reforço significativo na limpeza. "Talvez tenha que aumentar?", indagou.
Na entrevista, um auxiliar indicou que uma
concessionária desligou a energia de casas de bomba que fariam o escoamento da
água. A prefeitura, segundo ele, não foi avisada. Melo não quis lembrar que
votou a favor da privatização da empresa quando era deputado estadual.
Em seu quarto ano de mandato, com baixos
investimentos em prevenção, o prefeito lançou uma proposta pouco
inovadora ao dizer que o sistema de drenagem do município "precisa ser
revisitado na sua totalidade". Depois, inspirado no
governador Eduardo Leite, justificou a prioridade que faltou ao
tema. "As agendas de uma cidade são múltiplas. A drenagem é uma
delas", afirmou.
Certas reações a eventos críticos dessa
natureza são um talento de uma categoria especial de políticos. Quando
administrava a capital paulista, Celso Pitta afirmou
que a responsabilidade por alagamentos era de "maus cidadãos" que
jogavam lixo nas ruas. Quando cansou de reclamar do povo, passou a culpar o
"descaso do governo estadual"
Outros preferem o deboche para escapar da
responsabilidade. Em 2018, Marcelo Crivella deu de ombros para alagamentos no
Rio. "Lá em São Paulo também tem enchente. Vão até lançar um programa
novo: o Balsa Família", disse ao jornal O Globo. Em 2020, afirmou que a
culpa era da população que atirava lixo nos rios. Naquele dia, um cidadão lançou uma
bola de lama no prefeito.
Pois é.
ResponderExcluir