Folha de S. Paulo
Pesquisa da Quaest sobre desempenho de
Michelle e Tarcísio ilustra desafio de transferência de votos e rejeição
A passagem de bastão no bolsonarismo envolve
um aspecto peculiar. A derrota em 2022 refletiu o descolamento de uma parte da
base eleitoral de Jair
Bolsonaro e levou a direita a encarar duas trilhas distintas
(embora convergentes em preferências e no destino) rumo a uma recomposição para
a próxima disputa.
Números de uma pesquisa da Quaest compilados para a coluna indicam fatores que devem pesar nesse caminho. O instituto testou os nomes de Michelle Bolsonaro, Tarcísio de Freitas e outros bolsonaristas. A ex-primeira-dama aparece como um fenômeno completo de recall: herda os votos do marido em nichos estratégicos, mas também carrega sua rejeição.
Entre eleitores que declaram ter votado em
Bolsonaro na última eleição, 74% dizem que votariam em Michelle, e só 6%
afirmam desconhecê-la. No mesmo grupo, 50% declaram que votariam em Tarcísio, e
29% dizem que não o conhecem.
No segmento evangélico, Michelle (47%) também
vai melhor que Tarcísio (35%). Entre católicos, os dois empatam (26%), mas a
ex-primeira-dama ganha na rejeição: 55% contra 31%.
Mais diferenças surgem nos demais recortes.
Tarcísio (39%) supera Michelle (33%) entre eleitores do Sudeste, o que reflete
uma penetração restrita à sua atuação como governador. No Sul, 45% dos
entrevistados não conhecem Tarcísio. Ali, a ex-primeira-dama vai melhor que o
governador, mas sua rejeição (48%) é quase o dobro do índice dele (25%).
Os números explicam a aposta de certos
segmentos de direita em Tarcísio. Entre eleitores de maior renda, o ex-ministro
(37%) tem quase o mesmo desempenho de Michelle (40%), com uma rejeição bem
menor (30% para ele, 51% para ela).
A situação é parecida no cobiçado
grupo que classifica o governo Lula como regular: ambos ficam na
casa dos 25% de possibilidade de voto, mas a rejeição a Michelle beira os 60%.
Tarcísio é desconhecido por quatro em dez desses eleitores.
A pesquisa ilustra o desafio da transferência
de votos de um personagem que também é capaz de transmitir sua rejeição. Isso
explica o empenho de Tarcísio para manter sua
identificação com Bolsonaro enquanto se esforça para encenar
diferenças.
Tarcísio,o equilibrista em cima do muro.
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