quarta-feira, 29 de maio de 2024

Bruno Carazza - Chambriard anuncia que a Petrobras voltou

Valor Econômico

Nova presidente da Petrobras apresenta credenciais que justificaram sua escolha por Lula

A primeira entrevista de Magda Chambriard, nova presidente da Petrobras, fecha o ciclo de transição da companhia de uma gestão mais inclinada aos interesses do mercado, ao estilo Paulo Guedes, para a administração petista, comprometida com objetivos estatais mais amplos.

Transcorrido um terço deste novo mandato de Lula, a Petrobras alterou sua política de preços de combustíveis, desatrelando-os das cotações internacionais do petróleo, e lançou um novo plano de investimentos, retomando a ênfase em refino, transporte e comercialização, áreas que haviam sido a relegadas a segundo plano no governo Bolsonaro.

Mais recentemente, a polêmica sobre a distribuição de dividendos extraordinários, a despeito de toda a confusão causada nos mercados, serviu para sinalizar aos acionistas minoritários e investidores que os tempos mudaram.

Já em termos da estratégia da companhia, o novo pedido direcionado ao Ibama para realizar perfurações na Margem Equatorial e a revisão do acordo celebrado com o Cade sobre desinvestimentos em refino e gasodutos deixam claro que a empresa voltará a apostar na verticalização, do poço à bomba.

Magda Chambriard, portanto, chega ao poder após seu antecessor, Jean-Paul Prates, ter pagado o alto preço de preparar o terreno para colocar a Petrobras na trilha dos investimentos voltados para o desenvolvimento nacional, tal qual reza a cartilha petista. Na primeira entrevista concedida após sua posse, a nova presidente da petrolífera reforçou essa visão, apresentando as credenciais que esclarecem por que Lula a escolheu para assumir o comando da mais poderosa empresa estatal brasileira.

No seu discurso inaugural, Chambriard até que se esforçou para equilibrar no cabo de guerra entre o mercado e o governo. Depois de uma queda de mais de 10% nas ações desde que foi anunciada a troca de comando na Petrobras, ela enfatizou bastante as referências em lucros e dividendos, termos que são música para os ouvidos dos investidores.

Para tornar realidade essa promessa, porém, a nova CEO ancorou sua fala em referências a segurança energética, à necessidade de o Brasil se manter auto-suficiente na produção de combustíveis e ao peso que o petróleo tem na pauta de exportações brasileiras.

E não mediu palavras para destacar que sua missão é expandir a produção, explorando novas fronteiras para a extração de óleo e gás, mostrando-se disposta cumprir essa promessa de forma rápida – aliás, “tempestiva”, expressão que repetiu seis vezes no seu curto pronunciamento.

Há, porém, dois riscos nessa estratégia, que incomodam dois importantes grupos de stakeholders da Petrobras.

O objetivo de acelerar os investimentos na produção, refino e comercialização pode reeditar erros do passado, quando a Petrobras teve prejuízos bilionários provocados pela falta de critérios nas suas decisões – e isso provoca arrepios nos investidores.

Por outro lado, a intenção de abrir novos campos de exploração em áreas sensíveis, como a Margem Equatorial, desperta apreensão não apenas nas autoridades ambientais do governo, mas a segmentos sociais preocupados com a mudança climática.

Magda Chambriard, durante a entrevista, até mencionou a necessidade de a Petrobras investir em fontes renováveis de energia, mas dentro de uma lógica de lucro empresarial e mirando a neutralidade de emissões de carbono em 2050 – e o Rio Grande do Sul está aí para mostrar que o país não pode esperar até lá.

Embora em seu discurso a nova CEO da Petrobras tenha buscado se equilibrar entre os objetivos do governo, a desconfiança do mercado e as preocupações dos ambientalistas, sua entrevista não deixou dúvidas quanto ao rumo que será trilhado durante sua gestão.

 

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