O Estado de S. Paulo
É um perigo quando nosso editor supremo fica bravo com a imprensa
Dias Toffoli não gosta de jornalismo e está
bravo com a imprensa. Não quer que suas viagens para palestrar em eventos
privados sejam questionadas. As reportagens a respeito seriam “absolutamente
inadequadas, incorretas e injustas”.
É um perigo quando nosso editor supremo –
“enquanto Suprema Corte, nós somos editores de um país inteiro” – fica bravo
com a imprensa. O monocrata, que compreende o tribunal como poder moderador,
pode exercer seu autoritarismo – não deixa de ser forma de edição – ordenando
censura.
Não é preconceito. O “amigo do amigo do meu pai” não apreciou quando a Crusoé contou que ele seria o amigo de Lula, amigo de Emílio, pai do delator Marcelo Odebrecht. A matéria foi tirada do ar, os inquéritos xandônicos mostrando a que vinham – em defesa da democracia – já em 2019. Censura virtuosa. Ninguém está livre.
Livre está (ainda) o direito a perguntar:
quem – e com que grau de interesse em decisões do Supremo – bancou a trip de
ministros à Europa?
Dias Toffoli poderia ser transparente.
Preferiu reagir à fiscalização sobre sua atividade sempre pública citando
números da atuação plenária da Corte. “É o tribunal que, no ano passado, tomou
colegiadamente mais de 15 mil decisões.” Faz sentido que proceda assim, o
colegiado como escudo; uma vez que o que põe o STF em xeque são sobretudo
canetadas individuais como as dele – a que anulou as provas geradas nos acordos
de leniência da Odebrecht, por exemplo.
Ou a de Cristiano Zanin, cuja liminar
instrumentalizou o Supremo como agente de pressão a que o governo tivesse força
para renegociar o fim da desoneração com o Parlamento.
A Corte constitucional pervertida em terceiro
turno parlamentar, sua arbitragem a serviço de conter, em prol do Planalto, o
desequilíbrio que ora beneficia o Congresso. Contra o vício do parlamentarismo
orçamentário, fiador da autonomia anômala do Legislativo, o investimento no
vício do STF como poder moderador da República.
Desnecessário dizer que volume não é
qualidade em si e que 15 mil decisões colegiadas se tornam 15 mil e uma quando
o plenário abona o trem da alegria que Lewandowski puxou para a tomada dos
vagões das estatais. Vitória da articulação política da bancada do governo no
Supremo. A Lei das Estatais declarada constitucional, em seguida legalizada –
tese de Dias Toffoli –, a ocupação das companhias ocorrida sob a vigência da
liminar do hoje ministro da Justiça.
A lei é constitucional, a Corte
constitucional autorizandoesquentando janela com 14 meses de
inconstitucionalidade. Pensa-se na “continuidade da administração pública”,
argumentou o “senador” Barroso, presidente do Supremo. “Uma construção
coletiva.” O Planalto pede. O STF edita.
"O Planalto pede. O STF edita."
ResponderExcluirO Andeazza geme.
(Andreazza...
Já ouvi muito esse nome nas corruptas d'antanho)