quinta-feira, 30 de maio de 2024

Carolina Nalin – Desemprego tem menor taxa em dez anos, e emprego bate recorde

O Globo

Emprego no setor privado bate recorde no país, e taxa de desocupação fica estável em abril

Número de trabalhadores com carteira chega a 38,1 milhões e sem carteira atinge 13,5 milhões, os maiores níveis desde 2012. Rendimento médio do trabalhador cresce 4,7% no ano

A ocupação no setor privado bateu recorde no país no trimestre encerrado em abril, com o emprego com e sem carteira atingindo os maiores níveis da série histórica, iniciada em 2012. A renda média do trabalhador cresceu 4,7% no ano (R$ 3.151), e a massa de rendimentos também chegou ao seu maior patamar da série (R$ 313,1 bilhões).

Os números revelam um mercado de trabalho ainda aquecido. A taxa de desemprego surpreendeu analistas que projetavam alta de 7,7%, segundo mediana da Bloomberg, ao ficar estável em 7,5% no trimestre encerrado em abril em relação ao trimestre terminado em janeiro.

- Esta é a menor taxa de desocupação para esta base desde 2014, com 8,2 milhões de brasileiros em busca de uma vaga no mercado de trabalho

- Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) e foram divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira

O que dizem os analistas?

Segundo Adriana Beringuy, coordenadora de Pesquisas Domiciliares do IBGE, fatores como a queda dos juros e da inflação têm contribuído para o bom desempenho do mercado de trabalho em termos anuais. Com 100,8 milhões de ocupados, o nível da ocupação está entre os maiores níveis da série.

— Outro elemento é a informalidade, que é muito significativa na composição da população ocupada no país, e tem ficado estável nos últimos trimestres. O ramo que tem crescido é o dos trabalhadores formais.

Na visão de economistas, os dados positivos apresentados pelo IBGE e pelo Caged, com 240 mil vagas formais em abril, confirmam o cenário de aquecimento do mercado de trabalho no primeiro semestre em linha com a atividade econômica. Por outro lado, a alta dos salários pode trazer preocupação ao Banco Central em função do risco inflacionário.

É positivo para o trabalhador, mas isso impõe alguma restrição à política monetária — sintetiza Fernando de Barbosa Holanda, pesquisador sênior da área de Economia Aplicada do FGV Ibre.

Para Holanda, o resultado do IBGE chamou atenção ao apontar um mercado de trabalho forte para um período de fevereiro a abril. Mas ele ainda vê com cautela a continuidade desta melhora nos próximos meses:

O mercado formal mostra uma nova dinâmica depois da saída da crise da pandemia. Mas gerar muito emprego e de forma consistente depende do PIB. As expectativas (para economia) já eram de desaceleração, e a tragédia no Rio Grande do Sul deve ter algum impacto no nível de emprego e no PIB, ainda que — alerta.

Tatiana Pinheiro, economista-chefe de Brasil da Galapagos Capital, conta que os analistas esperavam uma estabilização na geração de vagas, mas têm se deparado com um mercado mais aquecido que o previsto. Parte desse movimento, diz ela, pode ser explicado por fatores como: política fiscal expansionista, reajuste real do salário mínimo, pagamento de precatórios e retomada gradual dos serviços prestados às famílias, mais intensivos em mão de obra.

Para os próximos meses, ela espera que a geração de vagas apresente estabilidade na criação de vagas, assim como na taxa de desemprego:

— A perspectiva é que isso estabilize, não falo de piora do mercado. Mas, se a taxa Selic estacionar em 10,5% ao ano, será uma política monetária apertada e em algum momento isso vai ter impacto no mercado de trabalho, provavelmente no fim do ano.

Menos dispensa no comércio e volta das contratações na educação

Para Adriana Beringuy, coordenadora de Pesquisas Domiciliares do IBGE, a estabilidade da taxa de desemprego em abril é um sinal positivo para o mercado de trabalho. Contribuiu para esse movimento a redução no número de dispensas no comércio, movimento proeminente no primeiro trimestre.

Além disso, segundo Adriana, foi observado um aumento da ocupação no setor da administração pública, saúde e educação. É neste período que são recontratados os profissionais da educação pública, sobretudo do ensino fundamental, explica:

— Os elementos que contribuíram para o aumento da taxa no primeiro trimestre perderam força agora.

Emprego com carteira chega a 38,1 milhões

O número de empregados com carteira de trabalho no setor privado chegou a 38,1 milhões, atingindo o maior contingente da série histórica, iniciada 2012. Houve estabilidade no trimestre e alta de 3,8% (mais 1,4 milhão) no ano.

Também bateu recorde o número de trabalhadores sem carteira no setor privado, com 13,6 milhões de brasileiros nesta modalidade de emprego. Foi registrada estabilidade no trimestre e alta de 6,4% (mais 813 mil pessoas) no ano.

A renda média do trabalhador foi de R$ 3.151 no trimestre encerrado em abril, estabilidade no trimestre e alta de 4,7% no ano. Com o resultado, a massa de rendimentos - soma dos ganhos de todos os trabalhadores do país - chegou a R$ 313,1 bilhões, novo recorde da série histórica.

Pnad x Caged

A Pnad traz informações sobre trabalhadores formais e informais. A pesquisa é divulgada mensalmente, mas traz informações do trimestre. A coleta de dados é feita em regiões metropolitanas do país.

Outra pesquisa, também divulgada nesta quarta-feira, é a do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Esta só traz informações sobre trabalho com carteira assinada, com base no que as empresas informam ao ministério.

Um comentário:

  1. Quando a reforma trabalhista foi aprovada havia uma expectativa no ar: qual seria seu impacto sobre o mercado de trabalho e a geração de empregos com carteira assinada nos anos subsequentes à sua aprovação?
    Otimistas e pessimistas criaram seus cenários, e exageraram em suas projeções.
    O texto não faz menção a ela, mas seria interessante sabermos em que medida ela poderia ter contribuído, ou não, para o quadro apresentado na coluna.

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