O Globo
Ninguém escutou do vice uma única palavra de
contestação à flexibilização do arcabouço fiscal
Lula bateu
Bolsonaro por margem mínima. O triunfo deveu-se às alianças com o centro
democrático firmadas no início da corrida eleitoral (Geraldo Alckmin) e depois
do primeiro turno (Simone Tebet e Marina Silva).
As três lideranças ingressaram no governo carregando as expectativas do
eleitorado que decidiu a disputa. O tempo mostrou, contudo, que elas não passam
de objetos decorativos.
Marina figura como outdoor da vertente ambiental da política externa lulista. Seu ministério só consegue realizar um programa mínimo, expresso na redução do desflorestamento na Amazônia. Adaptação às mudanças climáticas? Transição energética? No primeiro item, a ministra oferece apenas diagnósticos acadêmicos. No segundo, um equívoco conceitual paralisante.
A tragédia no Rio Grande do
Sul evidencia a urgência de reformar radicalmente nossos padrões de
urbanização e ocupação do solo. Inexiste plano nacional nessa direção. Pior: no
orçamento federal, engessado pelas despesas obrigatórias, não cabem nem mesmo
os recursos básicos de prevenção de desastres e reconstrução de
infraestruturas.
O Brasil oficial exibe-se lá fora como
“vanguarda da transição energética”. Fake news: o plano de transição do governo
concentra investimentos nos combustíveis fósseis. Marina aposta suas fichas,
exclusivamente, na expansão da geração solar e eólica, fontes intermitentes,
ignorando o imperativo de incorporação da fonte nuclear. Abraçada ao tabu
ideológico dos verdes, assiste à carbonização crescente da matriz energética
brasileira.
Tebet anunciou seu apoio a Lula enfatizando
que divergia do núcleo de ideias econômicas petistas, mas aceitou aninhar-se na
gaiola dourada do Planejamento. Nos meses iniciais, agradecida, peregrinou a
Canossa, adicionando sua voz à campanha petista contra um Banco Central que
cumpria a missão legal de limitar a inflação ao teto da meta. Depois,
engajou-se na elaboração conceitual de um dique de contenção das despesas
compulsórias — até ouvir uma sonora repreensão lulista.
A ministra nutria pretensões modestas. Não
ousava sugerir uma revisão dos indexadores da educação e saúde, contestar a
explosão dos gastos em emendas parlamentares ou colocar um freio nas rendas
nababescas do alto funcionalismo. Queria, apenas, em nome de alguma
sustentabilidade fiscal, descolar as despesas previdenciárias da trajetória de
forte expansão do salário mínimo. Seu plano não era contracionista, prevendo
crescimento real de 1% ao ano dos benefícios previdenciários. Mesmo assim,
Haddad cortou-lhe as asas antes do voo:
— Não vejo espaço nessa seara para discussão.
Qual é, exatamente, a “seara” de uma titular
do Planejamento proibida de se imiscuir no planejamento orçamentário? No dia em
que Tebet formular a si mesma essa pergunta inconveniente, estará concluída sua
participação no governo.
Alckmin não é um ministro comum, mas
vice-presidente eleito por partido coligado ao de Lula. Tem, portanto, pleno
direito à voz divergente em todos os temas, da economia à política externa. Sua
subserviência perene reflete uma escolha — e uma abdicação política.
Ninguém escutou do vice uma única palavra de
contestação à flexibilização do arcabouço fiscal. Ele ficou calado diante das
interferências do Planalto na gestão de preços da Petrobras e permaneceu mudo
quando Lula demitiu Jean Paul Prates para subordinar a estatal à dilmista Magda
Chambriard. É uma opção por Lula, em detrimento de seus eleitores.
Meias divertidas — de bolinhas, carrinhos ou
listras coloridas — tomaram o lugar da crítica ao apoio de Lula à guerra
imperial russa na Ucrânia ou ao
paralelo abjeto que traçou entre a guerra de Israel em Gaza e o Holocausto.
Mas, sobretudo, o vice perdeu a ocasião de se reunir com a oposição venezuelana
para marcar uma nítida posição por eleições livres no país vizinho.
Quando Lula nomeou o ministro da Secom, Paulo Pimenta,
como autoridade federal no Rio Grande do Sul, cabia a Alckmin apresentar seu
nome, explicando que a catástrofe não é um problema de “comunicação” — ou uma
oportunidade eleitoral. Ele, porém, preferiu Brasília. Sua vocação, como a de
Marina e Tebet, é decorativa.
Bom para fazer um contraponto à coluna de Celso Rocha de Barros, de ontem.
ResponderExcluir😏
"O imperativo de incorporação da fonte nuclear" no Brasil é o ATESTADO DE INCOMPETÊNCIA EM ENERGIA assinado pelo próprio colunista!
ResponderExcluir" Petrobras tem que acelerar exploração de petróleo. "
ResponderExcluir" O esforço exploratório dessa empresa tem que ser mantido, tem que ser acelerado. "
" Temos novas fronteiras importantes a perseguir; dentre elas, a questão do Amapá, na bacia Foz do Amazonas, temos a bacia de Pelotas. "
Magda Chambriard, nova presidente da Petrobras
( Folha )
😏😏😏
Demétrio e seus tiros demetrianos.
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