Folha de S. Paulo
Disputa política na tragédia gaúcha tem o
lado A, da luz, e o lado B, na treva
São recorrentes, por inevitáveis, as
comparações da catástrofe no Rio Grande do
Sul com a calamidade da recente pandemia. Em vários aspectos,
inclusive os efeitos político-eleitorais, muito menos dramáticos porque não
implicam perdas de modo direto e imediato.
Em decorrência da crise sanitária, deu-se mal o governante agressivamente negacionista. Jair Bolsonaro pagou com a derrota o preço da insensibilidade. Mas tampouco deu-se bem o governador que, diligente, providenciou o primeiro lote de vacinas contra a Covid-19. João Doria foi visto como excessivo na propaganda do feito.
Portanto, o ponto de equilíbrio na percepção
da sociedade entre o oito e o oitenta na atuação de detentores de poderes
públicos é de difícil calibragem. Por mais que os envolvidos no enfrentamento à
tragédia gaúcha digam que nem de longe pensam em benefícios ou malefícios
eleitorais neste momento, eles estão em suas mentes. Seja na luz ou na treva.
Na cena aberta, o ambiente é de colaboração,
mas no pano de
fundo os governos federal e estadual travam a disputa da
proatividade. Uma competição benéfica para os salvamentos, a ajuda aos
desabrigados, a reconstrução do estado e da vida das pessoas. É o lado A,
iluminado, do embate.
No lado B, trevoso, residem a mesquinhez e o
oportunismo. Acusações mútuas, ainda que em voz baixa nos escalões oficiais,
que evidenciam o intuito dos aproveitadores; o uso do anúncio de medidas de
apoio para discursos de palanque; a disseminação da cizânia nas redes sociais,
uns explícitos na vazão da raiva, outros disfarçados de bom-mocismo. Exibem-se
todos como exploradores do infortúnio.
A eleição é a hora de aferição do desempenho
dos políticos, candidatos ou patrocinadores de candidaturas. E ainda que esse
julgamento tenha mais peso nas cidades gaúchas, o desastre mobilizou o país
inteiro —que não esquecerá, agora ou em 2026, como não esqueceu da pandemia.
E que todos façam alguma coisa.
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