domingo, 12 de maio de 2024

Eliane Cantanhêde - Agora ou nunca

O Estado de S. Paulo

As águas do Sul do País vão baixar, mas o pântano digital continua. E as eleições vêm aí!

É agora ou nunca. Ou o Brasil enfrenta a ameaça das fake news a pessoas, instituições e à própria democracia, ou a polarização e a consequente irracionalidade política vão impedir qualquer tipo de regulamentação para a terra de ninguém em que as redes sociais criam sua realidade paralela e espalham visões deturpadas do mundo.

Se, por um lado, a tragédia histórica no Rio Grande do Sul uniu as instituições e gerou uma onda apartidária de solidariedade, tornou-se também o ambiente ideal para a ação do pântano ideológico, sem lei, escrúpulos e civilidade. As águas do Estado vão baixar, mas o pântano digital não. E as eleições municipais vêm aí…

O método é de sempre: captar um detalhe, um episódio, uma fala enviesada ou um erro pontual para generalizar os ataques, criar insegurança, desqualificar pessoas e profissionais e atingir o alvo: o adversário político e ideológico. As armas são as redes sociais, a inteligência está nos algoritmos.

Os algoritmos informavam a campanha de Donald Trump que a prioridade era encontrar qualquer prova de corrupção contra Hillary Clinton. Devassaram a vida dela em vão, o jeito foi improvisar. O uso de emails oficiais para mensagens pessoais se transformou na “grande corrupção”, no “grande escândalo”. Hillary perdeu, Trump venceu.

Aqui, um policial exigir documentos de caminhões num posto de fiscalização foi o estopim para as redes e marqueteiros bolsonaristas, o governador Jorginho Mello (SC) e meia dúzia de deputados massificarem a versão e a sensação de que há boicotes, falsos obstáculos e desvios contra todos os caminhões e ações de socorro. Pior: milhões acreditam e espalham que, como a Terra é plana, os governos não estão fazendo nada no Sul.

Há falhas, excesso de burocracia, falta de experiência ou informação de um agente público daqui e dali, como os que fiscalizam caminhões e cargas em estrada. Sim, e daí? Acontece, faz parte de uma operação de guerra como essa, mas são pontos fora da curva e, muito possivelmente, sem má fé. Impossível generalizar, a não ser por motivação ideológica ou patológica.

Se a Câmara estancou a discussão e não votou a regulamentação das redes na hora certa, tem de domar a fera agora e sem deixar terreno fértil para o “outro lado”, no Executivo, Judiciário e Legislativo, que defende regras tão rígidas, até draconianas, que impeçam o debate político, as devidas críticas e a responsabilização de pessoas públicas e até provocações triviais entre adversários. Nem tanto ao ar, nem tanto ao ar, mas que é agora ou nunca.

 

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