Valor Econômico
Segundo bimestre trouxe projeções apontando para o cumprimento das regras fiscais
Como esperado pelos especialistas, o
Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias do 2º bimestre trouxe
projeções apontando para o cumprimento das regras fiscais. O resultado primário
ficou negativo em R$ 14,5 bilhões, dentro da margem de tolerância da meta de
déficit zero, que é de R$ 28,8 bilhões.
Além disso, os R$ 2,9 bilhões que haviam sido
bloqueados na edição anterior do relatório, em março, foram liberados. Isso foi
possível por causa da incorporação de um crédito suplementar de R$ 15,8
bilhões, que elevou o limite de despesas do arcabouço fiscal. No relatório
anterior, esse limite estava extrapolado, daí o bloqueio.
Esse crédito, que ocorrerá apenas desta vez, decorre de uma regra de transição do arcabouço fiscal, ligeiramente modificada por um “jabuti” incluído, por articulação atribuída nos bastidores à Casa Civil, na lei que recriou o DPVAT.
Conforme havia antecipado mais cedo o
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em reunião da Comissão de Finanças e
Tributação da Câmara dos Deputados, mesmo com a incorporação da margem extra no
limite de despesas, o resultado primário projetado segue dentro da margem de
tolerância da meta.
No entanto, o quadro positivo não poderia ser
mais provisório.
O primeiro quadrimestre do ano foi
“excepcional”, qualificou Haddad. Não só para as contas públicas, como para a
inflação, o crescimento econômico e o mercado de trabalho.
Mas, acrescentou, “não temos a dimensão do
desafio econômico que o Rio Grande do Sul vai representar.” Ele contou que tem
dormido menos desde o início das chuvas no Estado, pensando nos próximos
passos. Assim, o terceiro bimestre do ano preocupa, admitiu.
Ao mesmo tempo, disse esperar que as medidas
de recuperação do Estado surtam efeito ainda este ano. O mesmo raciocínio foi
repetido mais tarde pelo secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, na
divulgação do relatório. Ele comentou que só com o tempo será possível saber o
quanto o saldo ficará negativo, ou se será até mesmo positivo.
Antes mesmo das incertezas geradas pelas
chuvas no Rio Grande do Sul, porém, já havia dúvidas sobre as contas deste ano
e, principalmente, nos anos seguintes.
O economista-chefe da AZ Quest, Alexandre
Manoel, deu como exemplo a incerteza quanto ao desempenho de medidas anunciadas
pelo governo, como os julgamentos no Conselho Administrativo de Recursos
Fiscais (Carf). Não há informações sobre quanto foi obtido.
Nessa frente, o governo projetou receitas de
R$ 54,7 bilhões no orçamento, dos quais espera conseguir R$ 49,6 bilhões de
maio a dezembro, informa o relatório. Questionado, o secretário da Receita
Federal, Robinson Barreirinhas, informou que os julgamentos estão a todo vapor
e que, a partir de maio, haverá um código específico para os recolhimentos. Com
isso, será possível saber com mais precisão quanto foi obtido nos julgamentos.
Nesse relatório bimestral, as receitas
primárias apresentaram alta de R$ 16 bilhões. Segundo Barreirinhas, houve
rearranjos na classificação que explicam a queda de R$ 16,4 bilhões nas
administradas e aumento de R$ 9,7 bilhões nas previdenciárias.
Além disso, as receitas não administradas
apresentaram alta de R$ 22,7 bilhões. A principal explicação foi a previsão de
entrada de R$ 13 bilhões em dividendos extraordinários da Petrobras, embora o
conselho da estatal tenha aprovado apenas metade desse valor.
O detalhe é que as receitas foram projetadas
sobre uma expectativa de crescimento econômico de 2,5% este ano. Esse número
havia sido estimado antes das chuvas no Rio Grande do Sul e não pôde ainda ser
recalculado.
O crescimento das despesas obrigatórias, por
sua vez, é apontado por técnicos como principal fator de risco para as contas
públicas. No relatório, cresceram R$ 20,1 bilhões, explicados em parte pelas
medidas de socorro ao Rio Grande do Sul.
Os gastos com previdência foram reestimados
em R$ 3,5 bilhões, após acréscimo de R$ 5,6 bilhões no relatório anterior. O
secretário do Tesouro Nacional, Paulo Bijos, comentou que a rubrica segue
acompanhada de perto, pois representa metade o limite de despesas.
É bastante provável que o próximo relatório
traga um retrato negativo dos impactos das enchentes no Rio Grande do Sul. Na
expectativa do governo, o cenário melhorará nos bimestres seguintes.
Ainda que os dados melhorem e que a meta do
ano seja cumprida, as preocupações com a sustentabilidade das contas públicas
seguem presentes. Isso porque o avanço dos gastos obrigatórios ameaça
inviabilizar o arcabouço fiscal em alguns anos.
Pois é.
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