Correio Braziliense
"A catástrofe aproximou o presidente da
República do governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite, seu provável
adversário nas eleições de 2026, que agradeceu o apoio de Lula"
Enquanto a cantora
Madonna reclama do forte calor do veranico carioca e seus bailarinos
curtem Copacabana e outras praias do Rio de Janeiro, num outono que ontem
registrava mais de 37º, no Rio Grande Sul há uma tragédia em decorrência das
fortes chuvas, com 29 pessoas mortas e mais de 60 desaparecidas, principalmente
na Serra Gaúcha. Foram atingidos 147 municípios, 67 mil pessoas estão
desabrigadas e, agora, com o transbordamento do Rio Guaíba, Porto Alegre está
sendo inundada.
De pronto, o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva viajou para o Rio
Grande Sul, onde prometeu todo apoio ao governador Eduardo Leite (PSDB)
para socorrer os flagelados, que estão sendo removidos das áreas de risco em
caminhões, tratadores, barcos e helicópteros. O socorro às vítimas foi muito
prejudicado pelo mau tempo.
A Marinha está enviando aeronaves, viaturas e embarcações para atuar em apoio às vítimas. O Exército também reforçou o número de helicópteros com destino ao Sul, que aguardam por condições meteorológicas para pousar em Santa Maria. Mais uma vez, tanto o governo gaúcho como o governo federal não estavam preparados para uma tragédia dessa envergadura.
Em Santa Maria, uma das regiões mais afetadas
pelas chuvas no estado, Lula disse que a prioridade é salvar a vida das pessoas
atingidas: "A gente vai tomar conta disso com muito carinho, com muito
respeito, para que as coisas possam acontecer. A gente não vai permitir, como
não permitirmos no Vale do Taquari, que faltem recursos para que a gente possa
reparar os estragos causados", disse, ao lado do governador.
O secretário nacional de Proteção e Defesa
Civil, Wolnei Wolff Barreiros, permanecerá no estado para representar o governo
federal no centro de comando integrado com os demais níveis de governo.
"Da parte do governo federal, não faltará nenhum esforço para que a gente
possa trabalhar arduamente, como já estão trabalhando as forças armadas",
garantiu Lula.
A catástrofe aproximou Lula de Eduardo Leite,
seu provável adversário nas eleições de 2026, que agradeceu o apoio:
"Tenho certeza de que não faltarão recursos do governo federal para poder
nos atender, mas, neste momento, a nossa prioridade é o resgate. Temos
pacientes que precisam de hemodiálise e estão isolados em alguns municípios.
Temos populações que estão isoladas e precisam de alimentação", disse.
Eventos extremos
Às vésperas da COP25, a conferência do clima
que ocorrerá no próximo ano, em Belém, com forte apelo internacional em razão
de se realizar em plena Amazônia, o país não tem um plano de contingência da
envergadura necessária para lidar com os chamados "desastres
naturais", cada vez mais frequentes por causa das mudanças climáticas. O
aquecimento global é uma realidade e uma das maneiras mais eficazes de contê-lo
a curto prazo é acabar com as queimadas.
Eventos climáticos e meteorológicos extremos
provocam o colapso da infraestrutura local, com perdas materiais e econômicas,
danos ao ambiente e à saúde das populações, seja pelo desastre em si, seja por
suas consequências. O fato é que as comunidades afetadas, como os municípios
gaúchos, nunca têm os meios próprios para lidar com a situação, o que exige uma
pronta resposta dos governantes em nível local, regional e nacional, como
ocorre agora no Rio Grande do Sul.
Esses desastres, muitas vezes, combinam
fatores hidrológicos — como inundações bruscas e graduais, alagamentos,
enchentes, deslizamentos; geológicos ou geofísicos — como terremotos e vulcões;
meteorológicos — raios, ciclones, tornados e vendavais; e climatológicos —
estiagem e seca, queimadas e incêndios florestais, chuvas de granizo, geadas e
ondas de frio e de calor. Com exceção de terremotos, vulcões furacões, todos os
demais fenômenos ocorrem no Brasil com mais frequência e intensidade do que
aconteciam antes.
Só os negacionistas do aquecimento global não
acreditam nessas mudanças, por mais que estejam evidentes no mundo. Todos os
indicadores mostram que as alterações ambientais e climáticas se intensificaram
nas últimas décadas e estão produzindo impactos que vão dos grandes desastres a
imperceptíveis consequências no dia a dia das pessoas, principalmente no âmbito
da saúde — até que surja um vírus novo, que provoque uma pandemia, como no caso
da covid-19. Outro exemplo é a epidemia de dengue, que ultrapassou todos os
paradigmas, seja o de duração ou de número de casos. Já morreram 2 mil pessoas.
Em todas as situações, salta aos olhos a
falta de um plano de contingência, com os recursos materiais e humanos
necessários para uma pronta resposta. Todos os anos ocorrem grandes enchentes
no país, nem sempre previsíveis quanto ao local e dia da tragédia, mas que
podem ser estatisticamente estimados. O país precisa de um sistema de Defesa
Civil mais robusto, organizado e equipado tecnologicamente, com maior
integração entre os diversos órgãos que precisariam ser mobilizados para
socorrer as populações atingidas.
Verdade.
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